No Canadá, Big Brother é cancelado e prêmio vai para vítimas do coronavírus. Por que a Globo não faz o mesmo? Por Nathalí

Atualizado em 3 de abril de 2020 às 12:26

A regra é clara: o inimigo do meu inimigo não é necessariamente meu amigo.

Não é porque a Globo – assim como eu, você e a esmagadora maioria da população brasileira – detesta Bolsonaro, que a gente deve se deixar esquecer que a família Marinho é podre e a Rede Globo é o chorume.

É ingênuo demais acreditar que a emissora – apoiadora da ditadura e do golpe de 2016, lembremos – entrou para a lista atualizada de comunistas só porque bate no Bolsonaro, sobretudo num momento em que só quem não bate no Bolsonaro é a Record, comprada por Bolsonaro.

A Globo não está preocupada com o número de infectados pelo coronavírus, nem com o fato de termos que lidar com um verme na presidência, nem com as pessoas que necessitam do benefício de $600 que não sai do papel. A globo está preocupada com a mesma coisa de sempre: audiência, que significa dinheiro.

Tanto que, no momento mais crítico de nossa história recente, comemora a maior votação de todas as edições do Big Brother Brasil, que culminou na eliminação de Felipe Prior, um bolsominion que a produção colocou na casa junto com um monte de feministas pra ver o circo pegar fogo – e viu seus números aumentarem pela força da pseudomilitância.

Transformar polarização em dinheiro: disso a Dona Globo entende.

No Canadá, em vez de faturar, o Big Brother doa: a vigésima edição do reality foi cancelada e o prêmio doado às vítimas do COVID.

Ao anunciar o cancelamento, a apresentadora disse o que qualquer um gostaria de dizer ao Boninho: “espero que vocês possam se orgulhar do fato de que esse prêmio fará algum bem real na comunidade em geral”.

A Globo foi procurada e não se pronunciou quanto à decisão canadense. Em vez de fazer um bem real na comunidade, só convidou um infectologista pra contar aos confinados (não, pera, agora somos todos confinados) sobre a pandemia e pedir que eles convencessem suas torcidas a ficarem em casa.

A emissora que não dá ponto sem nó jamais perderia uma oportunidade como essa: todos em casa, um país dividido refletido em um reality propositalmente dividido e todos votando muito em frente à TV.

Quem se importa com pandemia, não é mesmo?

Eis o ponto: a globo não quer – como nunca quis – fazer um bem real à comunidade em geral. E se agora a emissora faz oposição ao presidente, coloca gays e lésbicas em suas novelas e faz matéria sobre travestis na cadeia, não é porque um esquerdista barbudo rendeu as redações e estúdios, é porque todas essas coisas agora vendem, e qualquer coisa que vende é com a Globo, até mesmo uma pandemia.

Em tempos de covid, é bom saber exatamente em quem não confiar.