No Datafolha, o melancólico epitáfio de Geraldo, aquele que foi sem nunca ter sido. Por José Cássio

Atualizado em 11 de setembro de 2018 às 15:43
Geraldo Alckmin, do PSDB. Foto: Divulgação/Flickr Governo do Estado de SP

A melhor cena para retratar o ocaso eleitoral de Geraldo Alckmin não é a ginástica verbal que ele teve de fazer na sabatina do UOL, nesta terça, 11, para explicar a prisão do colega de partido Beto Richa ou a escandalosa campanha de Aécio Neves a uma vaga de deputado federal por Minas Gerais.

Ela na verdade aconteceu dois dias antes, no domingo, durante o debate dos presidenciáveis da TV Gazeta, quando o tucano foi para as considerações finais. Num impulso, um solitário apoiador ensaiou uma salva de palmas. Surpreendeu até mesmo Julio Semeghini, um dos poucos companheiros presentes no evento.

Em seguida, Guilherme Boulos, do PSOL, impôs toda sua energia para mandar o seu recado. Num troco ao solitário apoiador do presidenciável do PSDB, o público se manifestou com palmas e assobios, fazendo com que a apresentadora Maria Lydia tivesse de intervir.

O público manifestava naquele momento, ante a indigente participação de Geraldo no debate, o sentimento que havia sido expressado pelos que acompanharam o debate através das redes sociais e que seria consagrado pelo Datafolha do dia seguinte: após 10 dias de campanha na televisão, Geraldo manteve-se na casa dos 10% das intenções de votos no primeiro turno, muito atrás de Jair Bolsonaro, 24%, Ciro, 13%, Marina, 10, e tendo Fernando Haddad, que nem foi lançado oficialmente ainda, colado com 9% e em franca ascensão.

Se é verdade que ‘o jogo só acaba quando termina’, como gosta de dizer o lendário comentarista esportivo Chico Lang, que estava na platéia da TV Gazeta, é cedo para escrever o epitáfio das pretensões eleitorais de Geraldo nesta campanha.

Mais simples é tentar entender o que leva o candidato a carregar o fiasco nas costas.

A primeira suposição é um erro de estratégia que só alguém com um perfil provinciano como ele é capaz de cometer.

Como já se disse aqui no DCM, Geraldo se comportou nesta campanha como o mineirinho inocente que foi visitar Las Vegas e apostou todas as suas fichas na roleta. Jogou no preto 17 e voltou de mão abanando quando viu a bolinha parar no vermelho 34.

Foi isso o que ele fez ao imaginar que a televisão seria determinante na formação de opinião do eleitorado.

Sem medir consequências, juntou-se ao que restou de pior da política apenas para angariar minutos e segundos. O que conseguiu foi criar um torno de si um caldo de suspeita que 24 horas por dia se explicando não é tempo suficiente para convencer o balconista da padaria que lhe serve café todas as manhãs.

Outro erro primário foi imaginar que percorrendo o país sozinho, feito caixeiro viajante, iria atrair apoios suficientes para dar um mínimo de musculatura à sua candidatura.

Com vergonha das feras do Centrão, pagando os pecados após a gafe de ter criado um traidor como João Doria em seu próprio quintal, Geraldo é o retrato perfeito de um homem só.

Para se ter ideia do quanto, basta citar Bruno Covas.

Anunciado com ‘entusiasmo’ como o Coordenador da campanha no estado de São Paulo em 10 de julho, o prefeito de São Paulo ainda não se deu o trabalho de fazer uma postagem sequer no Twitter lembrando seus seguidores de que apoia a candidatura do tucano à presidência. Encontro com lideranças? Acompanhar o candidato na TV para dar uma força? Definitivamente Bruno tem mais o que fazer.

Numa conjuntura de absoluta desesperança, antigos correligionários começam a apelar.

Assustado com o trator se aproximando nesta reta de chegada do primeiro turno, um dos coordenadores do movimento tucano ‘Esquerda Pra Valer’ tentou recorrer à boa vontade dos “amigos petistas”.

– Abram seus corações, escreveu Fernando Guimarães em letras vermelhas e garrafais em sua página no Facebook nesta terça. Quem vocês querem no no 2° Turno? Alckmin 43% x 29% Haddad; Haddad 39% x 38% Bolsonaro.

Ambíguo, o pedido de socorro só faz reforçar a situação de penúria de uma campanha que tem candidato, mas é destituída de pé e cabeça.

Ainda que a mídia tradicional (a sabatina do UOL nesta manhã lembrou o vergonhoso passeio de Geraldo no Roda Vida mês passado) tente dar uma força, o mais óbvio é admitir que o tucano errou – errou feio e continua errando.

Após desistir dos votos dos conservadores que apoiam Bolsonaro, vai para o tudo ou nada contra o PT – ok, mas alguém esqueceu de avisar que Ciro está bombando, que Marina tem um eleitorado cativo e Meirelles está chegando com tudo.

O povo, que sempre foi sábio, e agora além de sábio está esperto, se informando e tomando decisões por conta própria, assiste a tudo de camarote, com o seu smartphone na mão e não sentado feito um saco de batatas no sofá.