No dia do golpe na Câmara, o PT declarou guerra aos “partidos de centro” na rua. Por Pedro Zambarda

Atualizado em 18 de abril de 2016 às 9:20
Anhangabaú, São Paulo, 17 de abril
Anhangabaú, São Paulo, 17 de abril

 

“Nós sofremos o golpe, mas a guerra não acabou. A guerra não acabou contra esses partidos que se dizem de centro. Perdemos uma batalha importante, mas não a guerra. Iremos pra rua porque somos o povo. Ficaremos na rua. Os ricos não vão cassar os nossos direitos”, disse o presidente do Partido dos Trabalhadores, Rui Falcão, num discurso duro e rápido de cerca de 10 minutos.

Embora fosse tarde demais, aquela foi uma declaração clara de como encarar o PMDB, antigo aliado de governo do PT.

Rui falava com uma plateia desolada no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, pela votação do impeachment de Dilma Rousseff na noite do dia 17 de abril de 2016.

A manobra parlamentarista orquestrada por um político com dinheiro desviado na Suíça ainda vai para votação no Senado, mas com poucas chances de reverter o quadro.

A partir deste dia 18, Dilma é afastada do governo e assume seu vice, Michel Temer, parceiro de Cunha no golpe e também integrante do PMDB.

Na Câmara, foram 367 votos favoráveis ao impeachment da presidente e 146 contra.

Eu estava no caminhão da CUT durante a declaração dos votos. Enquanto Jair Bolsonaro exaltava o torturador da ditadura militar Brilhante Ustra, uma mulher negra chorava copiosamente nos fundos do palanque.

O ex-ministro  Alexandre Padilha tentava levantar a moral da militância ao lado de Rui Falcão, mas sem muito efeito.

O músico Chico César, que estava tocando uma música de fundo, em pouco tempo foi deixando os instrumentos de lado para acompanhar a votação com tensão, fechando os olhos nos votos favoráveis ao golpe.

Perguntei se poderia entrevistá-lo para saber suas impressões. “Por favor, não posso conversar agora. Prefiro esperar até o fim da votação para falar alguma coisa”, disse. Acabei deixando para lá o depoimento pro DCM. A feição dele mostrava tanto cansaço e desgaste que ele não parecia disposto a conversar.

Os partidos que provocaram aquele clima de tensão em São Paulo traíram a base do governo Dilma. Foram os votos do PP, do PMDB e do PDT recheados por frases de louvor a Deus, aos familiares irrelevantes para o povo e aos bons costumes que deram o tom do golpe executado dentro do Congresso.

O clima de pessimismo que foi piorando durante a votação destoou do restante do dia de protesto pela democracia e contra os golpistas Cunha e Temer. Ao longo do dia, os manifestantes estavam animados e acreditavam que o impeachment não passaria na Câmara dos Deputados por uma margem apertada.

Sindicalistas do ABC prepararam um churrasco para acompanhar a transmissão nos telões. Perguntei se eles tinham recebido pra preparar a comida. “Não. É uma vaquinha. Todo mundo que come aqui pagou R$ 10”, respondeu.

Atrás do palanque da CUT, onde Rui Falcão discursou que é embaixo do Viaduto do Chá, havia duas pichações em paredes afirmando que “golpe é guerra”.

Demorou mais de 13 anos, o golpe provavelmente vai tirar Dilma Rousseff do poder, mas finalmente o PT terminou o casamento de conveniência com o PMDB.

 

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