
A primeira semana da COP30, em Belém, chega ao fim com expectativas crescentes sobre possíveis avanços nas negociações climáticas. Representantes de 194 países seguem em busca de consenso sobre temas sensíveis, especialmente financiamento climático, parâmetros globais de adaptação e caminhos para implementar e monitorar metas de redução de emissões.
Os grupos de negociação estão concluindo os textos para os acordos finais. Um dos pontos que ainda não entrou na Agenda de Ação, mas permaneceu na mesa de conversas ao longo da semana, é o artigo 9.1 do Acordo de Paris, que obriga países desenvolvidos a financiar as nações em desenvolvimento.
No próximo dia 24 de novembro, acontece o “Seminário Pós-COP30: O Brasil diante das transformações globais”, uma parceria entre o DCM e a Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).
O evento, presencial e gratuito, vai na contramão da cobertura factual e oferece um debate focado na implementação e, principalmente, no financiamento da transição energética.
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A COP29 fixou o valor de US$ 300 bilhões por ano para esse financiamento, número considerado muito aquém das necessidades globais. As presidências da COP29 e COP30 chegaram a propor a mobilização de até US$ 1,3 trilhão anuais, mas não há garantia de que esse volume avançará nesta edição.
Outro impasse diz respeito ao relatório síntese das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Para a comunidade científica, o conjunto atual de metas é insuficiente. Estudos indicam que, para manter o aquecimento dentro do limite de 1,5 ºC, seria necessária uma redução anual de 5% nas emissões.
Em vez disso, a projeção para 2025 ainda aponta um aumento de 1%. Nesse ritmo, o planeta avançaria para um cenário acima dos 2 ºC, considerado crítico. O cientista Johan Rockström, do Instituto Potsdam, alertou que o mundo não pode tratar a transição como um processo lento, já que será preciso retirar 2 bilhões de toneladas de CO2 da economia global nos próximos anos.
Na sexta (14), Rockström e outros oito cientistas, entre eles o brasileiro Carlos Nobre, divulgaram carta aberta reforçando os riscos de atrasos.
A pesquisadora Ricarda Winkelmann, do Instituto Max Planck, fez alertas sobre eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos. Ela afirma que as crianças de hoje enfrentarão ondas de calor até seis vezes maiores que as vividas por seus avós. Esses cenários, segundo ela, reforçam a necessidade de abandonar os combustíveis fósseis, responsáveis por 75% do aquecimento global.

Apesar dos desafios, organizações que acompanham de perto as negociações demonstram algum otimismo. Para Natalie Unterstell, do Instituto Talanoa, começa a surgir uma coalizão de países favoráveis a uma sinalização política mais firme sobre a transição energética.
O diretor-executivo do WWF-Brasil, Mauricio Voivodic, ressalta avanços na proteção de florestas tropicais e na construção de uma visão de longo prazo, embora considere essencial transformar o impulso inicial em decisões concretas. André Guimarães, do Ipam, avalia que o ritmo de negociação está acelerado e destaca a relevância do debate sobre combustíveis fósseis, um tema sensível para países como a Arábia Saudita.
Ao menos 23 países já aderiram à proposta informal de abandono gradual dos combustíveis fósseis defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre eles Reino Unido, Alemanha, Colômbia e membros da União Europeia.
Um dos maiores impasses segue no debate da Meta Global de Adaptação (GGA), criada no Acordo de Paris para orientar ações de resiliência climática. As partes tentam chegar a consenso sobre cerca de 100 indicadores globais, mas o Grupo Africano defende que o trabalho técnico seja estendido até 2027.

Entidades alertam que o adiamento prejudicaria países mais vulneráveis. Unterstell afirma que adaptação não pode esperar, citando, como exemplo, os impactos recentes no Rio Grande do Sul e no Paraná. Florence Laloë, da Conservação Internacional, reforça que atrasos limitarão investimentos e podem excluir soluções baseadas na natureza do mecanismo previsto no Artigo 6.4.
O peso das decisões de adaptação será decisivo para destravar financiamentos essenciais para comunidades mais afetadas, em um momento em que eventos extremos já desestabilizam economias, aumentam desigualdades e pressionam sistemas ambientais. O fechamento dos textos deve indicar se a conferência conseguirá avançar ou se empurrará decisões cruciais para os próximos anos.