Categories: Política

No, he can’t

 

Muhammad Ali se referiu muitas vezes a seu arqui-rival Joe Frazier como Uncle Tom.

Injustamente, aliás.

Uncle Tom era como os negros ativistas chamavam, pejorativamente, os negros que se comportavam como serviçais dos brancos no auge da luta de afirmação racial, em meados dos anos 1900. A expressão vinha do romance A Cabana do Pai Tomás.

Não era o caso de Frazier, aliás. Frazier até ajudou financeiramente ali quando este foi banido dos ringues por se recusar a guerrear no Vietnã. Ali foi ingrato e cruel com Frazier.

Mas é o caso de Obama. Obama é um típico Tio Uncle. Ou negro de alma branca, como os brasileiros dizemos.

Em sua temporada na Casa Branca, a elite branca continuou a ser tão favorecida quanto antes. Foi preciso que um bilionário – Warren Buffett – gritasse que o sistema tributário americano é absurdamente injusto. Buffett, num artigo que já ocupa um lugar de destaque na história moderna americana, mostrou que, relativamente, pagava menos impostos que sua secretária.

Não era novidade. Desde a era Reagan, na década de 1980, as corporações e os ricos foram amplamente beneficiados pela legislação fiscal americana. Um estudo do Congresso americano traduziu isso, no ano passado, em números estarrecedores.

Obama nunca tocou nisso. Foi preciso que Buffett clamasse, do alto de sua pilha monumental de dólares: “Chega!” (Dias atrás, também Bill Gates reclamou que paga pouco imposto.) Obama, enquanto isso, fazia, bem, fazia o quê mesmo? Atirava bombas nos países árabes. E mandava matar bin Laden, para recolher votos para a reeleição e se ufanar – ridiculamente — de que o mundo ficara mais seguro, contra todas as evidências.

O pior, para os Estados Unidos, é que a alternativa a Obama é ainda pior. Os republicanos representam a espécie mais predadora dos ricos americanos. Os dois nomes mais fortes da oposição republicana – Mitt Romney e Newt Gringrich – somam zero em carisma e todos os demais atributos que compõem um estadista.

Não é à toa que a China caminha velozmente para desalojar os americanos da condição de maior potência do mundo. Um país, como uma pessoa, pode perder o caminho, e foi isso que aconteceu com os Estados Unidos.

Em Obama, na campanha para a reeleição, o slogan que traduziria mais verdadeiramente suas realizações seria: “No, I can’t.”

Paulo Nogueira

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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