No mundo ideal, a bela enquadrada de Lewandowski seria a pá de cal em Gilmar. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 16 de novembro de 2016 às 20:26

 

No mundo ideal, a carraspana de Ricardo Lewandowski teria significado o encerramento da carreira de Gilmar Mendes.

Aconteceu no plenário do STF, durante votação de recurso extraordinário sobre incidência de contribuição previdenciária sobre adicionais e gratificações temporárias.

Gilmar pediu vista do processo depois de proferir seu voto. O colega classificou a atitude de “heterodoxa”.

— Tem coisas mais heterodoxas aqui, rebateu Mendes.

— Eu, graças a Deus, não sigo o exemplo de vossa excelência em matéria de heterodoxia. E faço disso um ponto de honra, respondeu Lewandowski.

— Basta ver o que vossa excelência fez no Senado.

— Basta ver o que vossa excelência faz diariamente nos jornais, devolveu Lewandowski.

— Faço, inclusive, para reparar os absurdos que vossa excelência faz.

— Absurdos, não. Vossa excelência retire o que disse. Vossa excelência está faltando com decoro não é de hoje. Eu repilo. Vossa excelência, por favor, me esqueça.

— Não retiro, falou Gilmar, baixando a crista.

— Vossa excelência se mantenha como está. Eu afirmo que vossa excelência está faltando com o decoro que esta corte merece.

Gilmar Mendes é um embaraço nacional. Lewandowski externou algo que está na garganta de milhões de brasileiros há muito tempo: o ministro que não sai da mídia está faltando com o decoro há muito, muito tempo.

Lewandowski ecoou Joseph Welch, que em 1954 liquidou o senador Joseph McCarthy numa CPI que apurava infiltração comunista nas Forças Armadas (pois é).

Cansado da cantilena de McCarthy, que acusava um jovem assessor de Welch, o advogado disse uma frase que entraria para a história: “O senhor não tem nenhum senso de decência?”

O macarthismo morreu ali, junto com seu criador. Quem dera tivéssemos a mesma sorte.