No Planalto, o “livrem-se dos livros”. Por Fernando Brito

Atualizado em 15 de fevereiro de 2020 às 12:15

PUBLICADO NO TIJOLAÇO

POR FERNANDO BRITO

Bela Megale, em O Globo, conta que parte da Biblioteca da Presidência da República – criada há mais de um século, por Venceslau Brás – está sendo desmontada para abrigar algo parecido com um serviço de telemarketing de uma “OMG” (Organização “Meio” Governamental) presidida pela Dona Michelle Bolsonaro, destinada a promover o voluntariado social.

A foto do jornal e a de como era antes da fúria vândala mostra o destino daquele espaço.

É lá que as “senhoras” dos ministros – no caso de Paulo Guedes, a irmã, dirigente da associação de universidades particulares – associam-se a eventos aos quais emprestam suas augustas figuras à caridade 2.0 dos “projetos sociais”.

Nada contra a busca da indulgência e aos momentos edificantes de trajar um casual em alguma periferia.

Só que, informa a nota, o espaço para as moças fazerem a integração virtual com estes eventos já havia sido providenciado, sete meses atrás, quando Bolsonaro criou a OMG, ao custo de R$ 330 mil, no Ministério da Cidadania, a cinco minutos de carro da residência presidencial.

Não havia, portanto, nem necessidade, nem economicidade em instalar o quase call center no anexo do Planalto onde está o acervo que Getúlio Vargas ampliou, Fernando Henrique informatizou e Lula, na reforma feita no Planalto em 2005 deu um espaço digno e adequado para consulta pública.

Não há espaço, agora, para guardar mais livros, aquelas coisas esquerdistas, um amontoado de letrinhas.

O pior é ler isso sendo saudado nos comentários do leitores. “Ninguém lê”, “digitaliza e joga fora”, “passado é passado, vamos viver o presente”.

Definitivamente há epidemias por aqui que provocam mais mortes cerebrais que as do coronavírus.