
O economista norte-americano Joseph E. Stiglitz, vencedor do Prêmio Nobel de Economia e um dos mais influentes pensadores da política econômica global, publicou nesta segunda-feira (28) um artigo incisivo em defesa da soberania brasileira e contra a escalada autoritária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O texto, intitulado “Brazil’s Brave Stand Against Trump” (“A Corajosa Resistência do Brasil Contra Trump”), foi publicado no site do Project Syndicate, referência mundial em análises de política internacional.
Stiglitz, que já presidiu o Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca e foi economista-chefe do Banco Mundial, começa contextualizando a erosão democrática promovida por Trump.
“Durante décadas, os Estados Unidos foram campeões da democracia, do Estado de Direito e dos direitos humanos. […] Mas, agora, não pregam nem praticam esses valores. Trump e o Partido Republicano mudaram isso”, escreve.
O Nobel lembra que Trump tentou invalidar a eleição de 2020 e segue afirmando falsamente que venceu o pleito. Segundo ele, essa radicalização contaminou grande parte da população americana: “Para muitos apoiadores de Trump, democracia e Estado de Direito são menos importantes do que preservar o estilo de vida americano — o que, na prática, significa garantir a dominação por homens brancos às custas de todos os outros”.
Em contraste, Stiglitz elogia a postura do governo Lula diante das ameaças dos EUA. “Como a China, o Brasil recusou-se a se submeter à intimidação americana. Lula chamou a ameaça de Trump de ‘chantagem inaceitável’ e afirmou: ‘Nenhum estrangeiro vai dar ordens a este presidente’.”
A frase foi dita em resposta à tentativa do presidente americano de condicionar as relações comerciais à interrupção do processo judicial contra Jair Bolsonaro. Para o economista, “Trump violou o Estado de Direito ao exigir que o Brasil, que seguiu todo o devido processo legal, fizesse o contrário”.
Stiglitz também destaca o embate entre Lula e as big techs dos EUA. “Lula defendeu a soberania de seu país não apenas no comércio, mas também na regulação das plataformas digitais controladas por empresas norte-americanas”, diz. Ele acusa os “oligarcas da tecnologia” dos EUA de usarem seu poder para forçar países a aceitar suas práticas danosas, como a disseminação de desinformação.
Ao concluir, o economista defende que a coragem do Brasil seja replicada por outros países: “Sob a liderança de Lula, o Brasil reafirmou seu compromisso com o Estado de Direito e a democracia, mesmo enquanto os EUA parecem estar renunciando à sua própria Constituição. […] Trump minou a democracia e o Estado de Direito nos EUA — talvez de forma irreparável. Ele não pode ser autorizado a fazer o mesmo em outros lugares.”