Normalizando a barbárie, jornalistas criticam Haddad por não ligar para o sujeito que o chamou de pedófilo, canalha etc. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 30 de outubro de 2018 às 16:38

A tentativa de normalizar Jair Bolsonaro passa agora por bater em Fernando Haddad por não ter lhe telefonado ao saber da derrota nas urnas.

Como se esperava, partiu de jornalistas uma lição de moral esdrúxula.

Dorrit Harazim, colunista do Globo que acordou para Bolsonaro há um mês, foi ao Twitter cobrar civilidade no pântano.

“O processo eleitoral democrático também recomenda que o derrotado felicite o vencedor de público. E cedo. Vacilou feio, Haddad”, decretou.

Mariliz Pereira Jorge, da Folha, uma espécie de Sheherazade Nutella, eventualmente ainda mais sem noção, considera que Haddad “se apequena ao não fazer esse gesto a Bolsonaro”.

Comparou com Obama: “Lá, como aqui, foi uma campanha suja. O cara acusou a derrota e deu parabéns a Trump”.

O antipetismo é uma doença que causa miopia incurável.

Um presidente eleito no Brasil faz um discurso divisivo, cercado de evangélicos, com o Frota ao fundo — mas o problema é Haddad.

Trump fez o diabo.

Mas não xingou Obama de “otário”, “amante de presidiário”, “canalha”, entre outras coisas. Também não ameaçou banir ou prender o oponente.

Noves fora o funcionamento das instituições republicanas nos EUA.

A nossa não foi uma eleição comum.

Foi a campanha mais sórdida da história, plena de violência verbal e física, absolutamente antidemocrática. Uma aberração.

No mundo de Mariliz e Dorrit, o homem acusado de distribuir “mamadeira erótica” nas escolas, estuprar uma criança de 11 anos, inventar o kit gay, interromper uma aula para comemorar o atentado de 11 de setembro, deveria ter dado uma ligada para o acusador e parabenizá-lo.

Quem sabe abrir uma porta para o diálogo com quem deseja seu aniquilamento, é ou não é?

Então tá.