
A crítica do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos processos do Supremo Tribunal Federal (STF) contra Jair Bolsonaro (PL) teve um efeito colateral inesperado: acabou favorecendo a estratégia digital do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de seu partido, o PT.
Embora a intenção do republicano fosse defender o ex-chefe do governo brasileiro, sua manifestação acabou fortalecendo o discurso do “nós contra eles”, amplamente explorado pela base lulista nas redes sociais.
Segundo levantamento da Real Time Big Data encomendado pela Coluna do Estadão, a resposta de Lula à declaração de Trump gerou um engajamento acima da média em poucas horas. Em menos de cinco horas, a postagem do petista no X ultrapassou um milhão de visualizações.
Mais surpreendente foi o índice de reações positivas: 54% dos comentários, curtidas, repostagens e envios por direct foram de apoio ao presidente, em contraste com a tradicional polarização das redes.
O cientista político Bruno Soller explica que, embora Lula enfrente resistência em parte da opinião pública, a alta rejeição internacional a Trump acaba beneficiando o presidente brasileiro: “As pessoas estão com dificuldade de fazer qualquer defesa do atual governo e do presidente Lula. Mas Trump tem uma rejeição muito grande, e isso ajuda Lula nas redes. Então, colocar-se como antagonista dá força a Lula e gera um conforto para as pessoas defendê-lo”.
Para Soller, esse tipo de embate internacional reforça a narrativa central da campanha de Lula, que tem apostado em uma estratégia emocional e identitária. “É o sindicalista contra o milionário, o pequeno contra o grande, o Brasil contra os Estados Unidos. Aí não é briga só sobre classes. É padrão global para engajamento”, destacou.
A defesa da democracia no Brasil é um tema que compete aos brasileiros. Somos um país soberano. Não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja. Possuímos instituições sólidas e independentes. Ninguém está acima da lei. Sobretudo, os que atentam contra a liberdade e o…
— Lula (@LulaOficial) July 7, 2025
A publicação analisada pelo instituto foi a mensagem do mandatário em resposta direta à fala de Donald Trump: “A defesa da democracia no Brasil é um tema que compete aos brasileiros. Somos um país soberano. Não aceitamos interferência ou tutela de quem quer que seja. Possuímos instituições sólidas e independentes. Ninguém está acima da lei. Sobretudo os que atentam contra a liberdade e o estado de direito”.
O norte-americano, por sua vez, havia postado na Truth Social uma longa mensagem em apoio a Bolsonaro, classificando o processo judicial contra o ex-presidente como perseguição política: “O Brasil está fazendo uma coisa terrível no tratamento do ex-presidente Jair Bolsonaro… Ele não é culpado de nada, exceto por ter lutado pelo POVO”, escreveu, acusando as autoridades brasileiras de promoverem uma “caça às bruxas”.
Apesar da repercussão internacional, ministros do Supremo Tribunal Federal ouvidos pela Coluna do Estadão afirmaram que os comentários de Trump são “irrelevantes” para os julgamentos em curso. Segundo os magistrados, o STF não irá se manifestar sobre o assunto, mantendo o silêncio institucional e delegando a resposta ao campo político — o mesmo em que a provocação foi feita.
