“Nós demoramos para fazer esse diálogo”: Gilberto Carvalho e os protestos contra a Copa

Atualizado em 19 de novembro de 2014 às 16:13
Gilberto Carvalho fala com faixa de protesto ao fundo
Gilberto Carvalho fala com faixa de protesto ao fundo

 

Governo federal, governo de São Paulo e prefeitura paulista promoveram na tarde de quinta o evento “O que o Brasil já ganhou com a Copa 2014”. Foi uma pequena amostra do que vem por aí.

Na coletiva de imprensa antes da apresentação, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) admitiu falhas na comunicação acerca dos investimentos. “Nós demoramos para fazer esse diálogo, tenho que reconhecer isso, não há por que negar. E com isso reconheço que sonegamos algumas informações e infelizmente nem sempre a cobertura jornalística consegue dar esse conjunto de informações”, disse. “Esses dados do que se investiu na Copa, na infraestrutura, na saúde e na educação, as pessoas não têm. Mas antes tarde do que nunca.”

Primeiro sintoma de que nem tudo estava tão entrosado, tão logo a vice-prefeita Nádia Campeão tomou a palavra, iniciou com um ‘não é bem assim’. “Acho que é relativa a afirmação de que nós não demos informações. Todos fizeram seus esforços e hoje é mais uma oportunidade para que se ouça e que vocês possam ajudar a divulgar o que foi feito. No ano passado foram feitas 17 audiências públicas, nós recebemos diversos movimentos sociais, eu pessoalmente já fiz dezenas de debates pela cidade toda. Isso pra não falar do Portal da Transparência em que todas as informações e documentos estão ali colocados.”

Já no auditório completamente lotado onde ocorreria a apresentação de dados, números e investimentos e ações de cunho social, o burburinho era imenso.

Imediatamente ao iniciar sua fala, Gilberto Carvalho viu surgir atrás de si uma imensa faixa vermelha com “Não vai ter Copa” grafado. Com muitas vaias contrárias ao protesto, o pessoal do “vai ter Copa, sim” ouviu o ministro defender a manifestação e aceitar que a faixa ali ficasse.

Porém, com militantes de ambos os lados ofendendo-se ininterruptamente, em diversos momentos o caldo quase entornou. Nada que tenha impedido a exposição do total de investimentos feitos, com quais recursos e qual a expectativa de retorno. E um dos primeiros slides foi um comparativo entre investimentos na Copa (R$ 8 bi) com as exigências feitas nas ruas  (R$ 101,9 bi em educação; R$ 83 bi em saúde). Valores de 2013.

O encontro com setores da sociedade foi organizado para esclarecer líderes de movimentos sociais, sindicalistas e órgãos que criticam a Copa, de modo a, se não desmobilizar, ao menos enfraquecer os argumentos das manifestações durante o Mundial. A mesa estava composta também de Wagner Caetano (também da secretaria-geral da presidência), Julio Semeghini (secretário de planejamento de Alckmin) e Pedro Trengrouse (consultor da ONU para a Copa).

Com pouco feeling para amenizar a situação, dois vídeos produzidos pela Globo foram projetados. Mais vaias e gritaria.

Saldo geral: a apresentação atendeu seu propósito, o clima de rivalidade ficou comprovado e veremos isso nas ruas durante o evento (o ‘não vai ter’ contra o ‘vai ter sim’), mas o ministro saiu-se muito bem, defendendo o direito de manifestar-se do povo brasileiro. “É um sinal de amadurecimento da nossa democracia as pessoas irem às ruas revindicar seus direitos. Às vezes com mais radicalidade, às vezes com menos, e é claro que a Copa aflora mais manifestações. Agora, nem tudo o que pedem tem a ver com a Copa. Saúde, educação, moradia, transporte, nada tem a ver com a Copa. Mas insisto, o turista estrangeiro ou de outros estados que chegue aqui e der de cara com uma manifestação em São Paulo, ele não deve estranhar. Ele deve saber que essa é a nossa democracia que venceu a ditadura e ir para a rua é um ato louvável e exercício pleno da democracia”, disse Carvalho.

Assegurou ainda que a temida lei anti-terrorismo não deve vingar. “Tramita no Congresso uma lei que nos preocupou, porque ela tinha um vezo excessivamente duro e estamos dialogando para que não haja às pésperas do Copa nenhum tipo de nova legislação. Hoje mesmo é possível que haja alguma manifestação aqui na frente e nós precisamo conviver com isso.”