“Nos escondíamos embaixo da cama”, diz vítima de eletrochoque

Atualizado em 12 de fevereiro de 2019 às 14:49

Publicado na Rede Brasil Atual

Ministro da Saúde afirmou que compra de eletrochoque será analisada

“Quando eles vinham com eletrochoque, a gente queria se esconder embaixo da cama para isso não acontecer. Mas eles nos amarravam e obrigavam a gente a tomar esse eletrochoque que dá um tranco horrível e a gente não vê mais nada”. O desabafo é da aposentada Sônia de Fátima Rosa que, após ter sido erroneamente diagnostica com esquizofrenia, passou 30 anos internada em um hospital psiquiátrico, em São Bernardo do Campo (ABC Paulista), onde recebia antipsicóticos e eletrochoques.

Em encontro da Frente Estadual de Luta Antimanicomial realizado em São Paulo, neste sábado (10), a aposentada, que hoje não está mais reclusa para tratamento e conseguiu entrar na universidade após iniciar acompanhamento considerado por ela mais “humanizador” no Centro de Atenção Psicossocial (CAPs), um serviço público de amparo que atua pela redução de danos, preocupa-se diante da possibilidade da ampliação do uso do eletrochoque enquanto método médico.

Anunciada na semana passada, a proposta do governo Bolsonaro que pode comprometer mais de 50 anos de luta dos profissionais do setor pela chamada reforma psiquiátrica, busca empregar uma lógica de “tratamento” considerada ultrapassada. Entre as terapias previstas pela Nota Técnica Conad 01/2018 estão, por exemplo, o uso de eletrochoque e da imposição de abstinências, em detrimento da política de redução de danos.

Para especialistas participantes do encontro, a administração conjunta de medidas como essas podem aumentar a crueldade contra pessoas com a saúde mental comprometida e em sofrimento psíquico.

Em entrevista à Folha de S. Paulo, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que a compra de aparelhos de eletrochoques para o Sistema Único de Saúde (SUS) ainda será avaliada, mas que a prática não será vetada.