Nos EUA, a atuação de Moro no Facebook lhe traria dores de cabeça. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 27 de novembro de 2016 às 9:59

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A militância de Sérgio Moro no Facebook lhe traria algumas dores de cabeça no país que usa como referência de civilização, os Estados Unidos.

A página administrada por sua mulher, Rosângela Wolff Moro, é um pequeno fenômeno. Chama-se “Eu MORO com ele” (em caixa alta). Tem 562 mil curtidas. Os fãs entram para elogiar e também, como seria inevitável, bater em seus inimigos, de Lula a ministros do STF.

Moro aparece para fazer o que se chama, na indústria da música pop, de “meet and greet”.

Há semanas, gravou um vídeo em que lia um trecho de um discurso do ex-presidente americano Theodore Roosevelt, aquele da doutrina do big stick, ou porrete, contra a corrupção.

Terminava agradecendo Rosângela. “E fica essa leitura aí para ser apresentada nessa página, que é mantida, muito gentilmente, pela minha querida esposa”, dizia.

Na sexta, dia 25, posou na varanda de um apartamento com uma camiseta com a frase “In Ro I Trust”. Ele cobriu as letras de uma camisa em homenagem a si mesmo. No original, “In Moro We Trust”.

Em setembro, Moro lui même se manifestou na conta do jurista gaúcho Lenio Streck.

Lenio escreveu: “Sentença proferida por Sérgio Moro no caso Bumlay (sic): Alegações finais da defesa entraram dia 14. Conclusão ao juiz as 7h52min do dia 15. Sentença de 160 páginas dois minutos depois, as 7h54min. Bingo! Será necessário dizer algo? Há anos aviso que o solipsismo judicial acabaria com o direito”.

Moro entrou falando que “vale esclarecer os fatos”. Terminou avisando: “Não voltarei ao tema por aqui. Sinto pela aspereza.” A contenda teve guerra de torcida organizada de ambos os lados.

Faz sentido essa atuação intensa? Quais os limites éticos para atuação dos magistrados nas redes, levando-se em conta que eles também moram na internet, como o resto do mundo? A discrição não deveria ser necessária?

Em agosto, durante audiência na Câmara em que defendeu o fim do foro privilegiado, Sérgio Moro citou algumas vezes a “jurisprudência norte-americana”.

Nos EUA, está se discutindo intensamente a presença do Judiciário nas redes sociais.

Segundo o Los Angeles Times, “juízes diferem dos funcionários públicos dos outros dois ramos [Executivo e Legislativo], porque são supostamente imparciais e impermeáveis ​​à influência. Cada ‘amigo’ pode ser potencialmente comprometedor em um litígio futuro”.

No Kentucky, um magistrado foi punido dar likes em advogados, violando assim o código que proíbe “transmitir a impressão de que outros estão em uma posição especial para influenciar o juiz”.

Outro, que criticou um advogado, “lançou dúvidas razoáveis ​​sobre a capacidade de agir imparcialmente”, de acordo com a reprimenda.

Regras diferem de estado para estado. Na Carolina do Sul, há controvérsias sobre juízes que ficam amigos de policiais no FB.

Em 2014, o Código de Conduta dos juízes federais estabeleceu que é eticamente condenável “expressar opiniões sobre tópicos que sejam politicamente sensíveis” e “fazer comentários públicos a respeito dos méritos de uma ação pendente”.