Nós não aceitamos que Marcelo seja culpado

Atualizado em 11 de agosto de 2013 às 19:50

Por isso, negamos os fatos e criamos enredos em que ele é uma vítima para sempre inocente em um mundo cruel.

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Nós não aceitamos que Marcelo Pesseghini possa ter feito o que tudo indica que ele fez.

Nele vemos nossos filhos, e a nós mesmos na infância, tão doce, tão inocente, e não, não aceitamos.

Olhamos os retratos dele com a família. Todos bonitos, todos sorridentes, todos felizes, e não, não aceitamos.

Alguma coisa deve ter acontecido porque aquela inocência é inexpugnável.

Crianças como ele são a representação dos anjos para nós. O tempo destroi aquele olhar, o tempo destroi os sonhos e as ilusões. Mas não, não para ele, para Marcelo é ainda tempo de sonhar, de acreditar, de confiar.

E então repudiamos os fatos e, num quase desespero, montamos roteiros em que ele é mais doída vítima da tragédia dos Pesseghinis, e nos indignamos com os que simplesmente aceitam as evidências.

Não, Marcelo não pode ter dito a um colega que gostaria de matar a família. Não, Marcelo não pode ter dito que gostaria de ser um assassino profissional.

Não, Marcelo não pode ter aparecido num vídeo em que ia pegar o carro e ir para a escola, no que seria seu último dia de estudante e de vida, e num momento em que sua família já estava morta atrás dele.

Não, Marcelo não pode ter ficado perturbado com a fibrose cística com a qual a genética lhe pregou uma peça, um mal que reduz a expectativa de vida a menos de 40 anos, e que inibe o desenvolvimento mental.

Foram bandidos, foram policiais vingativos que apertaram os gatilhos que destruíram os Pesseghinis e, entre eles,  aquele garoto loirinho e indefeso que nós gostaríamos de pegar no colo e abraçar, e ninar, e proteger de tantas coisas ruins que acontecem em nossa marcha sobre esta terra.