
A nota divulgada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) nesta terça-feira é um constrangimento institucional e um desastre político. Em vez de defender os interesses reais do setor agropecuário brasileiro diante do tarifaço de Donald Trump, a entidade opta por um malabarismo vergonhoso: culpa o governo Lula, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal por uma crise provocada por um ato hostil da extrema direita americana — com o objetivo evidente de proteger Jair Bolsonaro e punir o Brasil por sua atuação soberana no cenário internacional, especialmente no BRICS.
O texto afirma que o Brasil voltou às manchetes internacionais “não por suas oportunidades, mas por suas ‘crises políticas pessoais’ internas”.
“Enquanto o Brasil real tenta recuperar sua economia, atrair investimentos, abrir mercados e gerar empregos, a política nacional insiste em girar em torno de uma pauta estéril, paralisante, marcada por radicalismos ideológicos e antinacionais”, disse a entidade. “A presença dessa agenda como prioridade, inclusive nas relações internacionais, ficou ainda mais evidente com a carta do presidente Donald Trump, um gesto simbólico, mas que reverberou nas instituições brasileiras e criou novo ruído na imagem do país no exterior”.
Gesto simbólico??
A palhaçada continua. “A verdade é que o Brasil tem sido governado, direta ou indiretamente, por uma obsessão com o passado. O Congresso Nacional, pressionado por suas bases políticas, perde tempo em disputas e manobras que têm pouco a ver com os interesses econômicos do país”, prossegue a carta.
“O Judiciário, por seu turno, também tem sido envolvido em um protagonismo institucional que, embora muitas vezes necessário, alimenta uma instabilidade constante. E o governo atual é muito culpado também. Em vez de assumir a liderança de uma agenda pragmática e pacificadora, optou por reabrir feridas políticas, reforçando antagonismos e muitas vezes tratando adversários como inimigos”.
Trump decidiu atacar as exportações brasileiras por razões ideológicas. Fez isso para agradar sua base, apoiar o aliado golpista Bolsonaro e pressionar o Brasil por se afastar da subserviência automática aos EUA. A resposta da CNA? Acusar o país de estar “obcecado com o passado”, como se julgar um criminoso fosse um capricho e não uma exigência do Estado de Direito.
A CNA não é árbitro da República nem representante de um suposto “Brasil real” acima das instituições. É um lobby. Um lobby que, ao se recusar a nomear Trump como agressor e ao relativizar as investigações contra Bolsonaro, adere à desinformação. A entidade não representa o conjunto do agro brasileiro — apenas a parte que ainda se comporta como linha auxiliar do bolsonarismo.
O presidente é o baiano João Martins, bolsonarista que, em 2024, declarou que se “recusava” a falar com Lula. A arrogância, a ignorância e a poltronice de mãos dadas.
Não há uma linha na nota condenando as tarifas norte-americanas. Nenhuma palavra exigindo que Trump respeite o Brasil. Em vez disso, a CNA escolhe mirar nos alvos preferidos da extrema direita. Um gesto de omissão disfarçado de falsa neutralidade.
Quem quer proteger o agro deveria apoiar o governo brasileiro na resposta diplomática e comercial à agressão norte-americana. Mas a CNA prefere alimentar a mesma instabilidade que finge condenar. Em nome de uma suposta “moderação”, a entidade se junta a quem atacou a democracia, sabotou as instituições e agora sabota a economia.
Se a CNA não tem coragem de defender o país quando ele é atacado, deveria ao menos ter a decência de se calar. Porque o que fez nesta nota foi jogar contra o Brasil. E isso não se apaga com retórica vaga. Tem nome: traição.