
A nova pesquisa da Atlas Intel, divulgada hoje, traz resultados que consolidam tendências já visíveis em levantamentos anteriores e acendem alertas importantes para o campo da direita. O dado mais expressivo é a rejeição crescente à ideia de anistia para Jair Bolsonaro e outros envolvidos em tentativas de golpe. Segundo o levantamento, 57% dos entrevistados são contra a anistia ampla, geral e irrestrita, contra 40,6% que a apoiam. É um crescimento claro em relação a agosto, quando os contrários eram 51%. Esse resultado mostra uma maioria cada vez mais convicta de que o país não deve ceder a pressões por esquecimento dos crimes cometidos contra a democracia.
Esse ponto inicial é central porque desmonta a narrativa construída por aliados de Bolsonaro e de governadores como Tarcísio de Freitas. O discurso do paulista em defesa da anistia e em ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) encontra forte resistência fora de nichos específicos. Ainda que tenha respaldo entre evangélicos — 62% concordam com suas declarações contra o STF —, o impacto nacional é claramente negativo. A pesquisa mostra que, caso Tarcísio adote essa postura como bandeira de uma eventual candidatura presidencial, 54% dizem que jamais votariam nele. Entre os que ganham mais de R$ 5 mil, a rejeição salta para 66%. Isso indica que o discurso radicalizado pode reforçar sua base no Sudeste e em setores evangélicos, mas enfraquece seriamente suas pretensões de alcançar o eleitorado médio nacional.
Do lado de Bolsonaro, a pesquisa traz más notícias no que diz respeito à percepção sobre o julgamento no STF. A maioria da população (53%) acredita que ele participou de um plano de golpe de Estado em 2022, e 47,6% consideram que a condenação no Supremo terá impacto positivo na política brasileira, contra 41% que a veem de forma negativa.
O esforço do ex-presidente em se vitimizar nas redes sociais e em mobilizar sua base não conseguiu mudar a narrativa predominante de que ele foi protagonista de um ataque frontal à democracia. Isso não significa, contudo, que Bolsonaro tenha perdido totalmente sua força: entre eleitores de direita e centro-direita, continua sendo o nome mais lembrado, com 43% de preferência para liderar o campo conservador. É muito mais do que Nicolas Ferreira (22%) e Eduardo Bolsonaro (13,8%). Mas a pesquisa também mostra que, caso Bolsonaro não possa concorrer em 2026, a maioria de seus apoiadores (46%) gostaria que ele escolhesse Tarcísio como sucessor.
Nos cenários eleitorais, os resultados confirmam o favoritismo de Lula. Contra Bolsonaro, aparece com 48,1%, abrindo possibilidade de vitória em primeiro turno. Contra Tarcísio, tem 48%, enquanto o governador paulista caiu de 34% para 30%. Contra Michelle Bolsonaro, a vantagem de Lula é de 20 pontos. Já em cenários sem Lula, Fernando Haddad lidera contra Tarcísio, com 38% a 31%, mostrando que o campo progressista não depende apenas da figura presidencial para se manter competitivo. No segundo turno, Lula venceria todos os adversários testados, sempre com margem de pelo menos cinco pontos.
Esses números reforçam a análise já feita por especialistas como Antônio Lavareda: aprovação acima de 50% coloca o incumbente em posição de favorito para a reeleição. A Atlas Intel, com sua metodologia de entrevistas digitais aleatórias e grande amostra de mais de 7.000 respondentes, mostra tendências consistentes. A direita ainda tem força, especialmente nos segmentos evangélicos e entre os mais radicalizados, mas enfrenta uma conjuntura adversa: Bolsonaro carrega o peso de sua condenação, Tarcísio não consegue ampliar seu discurso e nomes alternativos como Ciro Gomes aparecem cada vez mais irrelevantes.
No balanço, a pesquisa confirma que Lula vive um momento político favorável, enquanto a direita busca um caminho entre a fidelidade à figura de Bolsonaro e a necessidade de encontrar alternativas viáveis para 2026. Se hoje a disputa fosse travada, Lula teria a vantagem de estar ancorado em resultados econômicos concretos, enquanto seus adversários ainda parecem prisioneiros de discursos de nicho.
Íntegra do relatório da Atlas Intel de setembro de 2025.
Publicado originalmente em O Cafézinho