Novo advogado de Flávio já defendeu o miliciano Orlando Curicica, acusado de mandar matar Marielle

Atualizado em 4 de julho de 2020 às 20:57
O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).
Foto: Pedro França/Agência Senado

Publicado originalmente na Agência Pública:

Por Alice Maciel

As ligações entre o clã Bolsonaro, seus advogados e a milícia fluminense acabam de ganhar um novo elo: o advogado que assumiu recentemente a defesa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos RJ) no inquérito das rachadinhas, Rodrigo Roca, já defendeu o miliciano Orlando Oliveira Araújo, que liderava um grupo de paramilitares que atuavam em Curicica, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Orlando Curicica, como o ex-policial é conhecido, chegou a ser apontado por uma testemunha como o mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, ocorrido em 14 de março de 2018. Porém, a acusação foi desmentida quando Orlando denunciou uma trama para obstruir as investigações, incluindo uma testemunha falsa. Ainda durante a investigação, foi Orlando Curicica quem denunciou, em 2018, o envolvimento dos membros do Escritório do Crime – grupo de matadores de aluguel formado por policiais militares da ativa e ex-policiais – na execução de Marielle e Anderson.

Hoje ele está preso no presídio federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.

Rodrigo Roca foi autor de dois pedidos de habeas corpus – impetrados no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro em 2016 e 2017 – a favor do miliciano no processo que investiga outra execução, a do presidente da escola de samba Parque da Curicica, Wagner Raphael de Souza. Ambos foram negados. Roca também aparece como advogado de Orlando Curicica em uma carta precatória encaminhada ao Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul para ouvir uma testemunha neste mesmo processo.

Rodrigo Roca assumiu a defesa de Flávio Bolsonaro. Foto: Divulgação/Procon

O advogado afirmou à Agência Pública que entrou no caso para atender ao pedido de um ex-aluno que também havia sido seu estagiário. ”Ele falou, ‘mestre, você faz juri, você me dá uma bola nisso aqui’?”, lembrou. Rodrigo Roca afirmou que não fez nenhuma audiência e impetrou o habeas corpus para tentar trancar a ação penal. Segundo ele, sua passagem pelo processo foi “meteórica”, de oito de setembro de 2016 a nove de maio de 2017. “Nunca advoguei para miliciano, minha passagem pelo caso do Orlando foi essa”, acrescentou. Roca disse ainda que não conhecia Flávio Bolsonaro antes de assumir sua defesa e que entrou por meio da sua irmã, a advogada Luciana Barbosa Pires.

Procurado, Flávio Bolsonaro não respondeu à Agência Pública até a publicação desta reportagem.

Orlando Oliveira Araújo é acusado de ser o mandante do assassinato do sambista, conhecido como Dádi, em 2015. Ele foi morto de forma semelhante a Marielle Franco, a tiros dentro de um carro na Estrada de Curicica. O ex-policial militar teria dado a ordem para matar Wagner de Souza porque a vítima alugou um terreno para um circo sem pedir sua autorização, de acordo com a denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro. O presidente da escola de samba estava acompanhado por uma mulher, que sobreviveu à emboscada.

“O crime foi cometido de forma a impedir a defesa das vítimas, já que os disparos foram efetuados a pouca distância contra suas cabeças”, denunciou a promotoria. Orlando Curicica foi preso em outubro de 2017 por porte ilegal e condenado em 2018. Ele ainda responde a processos por crimes de organização criminosa e homicídio, como o do assassinato de Wagner de Souza. Os denunciados por serem os autores dos disparos, presos desde dezembro de 2018, são Willian da Silva Sant’Anna, o Negão, e Renato do Nascimento dos Santos, o Renatinho Problema.