Repercutiram, neste sábado (19), as declarações do chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Mike Pompeo, durante a passagem por Boa Vista, Roraima. Na sexta, ao lado do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o secretário de Estado fez duras críticas ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e declarou que os Estados Unidos querem “representar as pessoas da Venezuela”.
Referindo-se a Maduro como “traficante de drogas” que “destruiu” seu país, Pompeo ainda afirmou que não pode responder quando o chefe do país vai cair, “mas que esse dia vai chegar”. O Brasil é o 3º país que faz fronteira com a Venezuela que ele visita. Neste sábado ele embarcou para Bogotá, na Colômbia, em mais uma parada no tour sul-americano.
Depois das evidentes ameaças à Venezuela, até mesmo o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reagiu às declarações do representante americano a 46 dias para a eleição presidencial dos EUA. Maia afirmou que o comportamento não “condiz com a boa prática diplomática internacional e afronta as tradições de autonomia”. Outros parlamentares seguiram Maia.
“Diplomacia brasileira ultrajada por Bolsonaro. Dá tristeza assistir a um espetáculo patético como esse de Roraima. Mike Pompeo desrespeitou nossa Pátria em sua visita hoje para ameaçar país vizinho. Uma afronta ao Brasil!, declarou o vice-líder do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry (MA).
Pré-candidato a prefeito de São Paulo, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) alertou sobre o impacto da subserviência do atual governo para a economia. “A servilidade, a subserviência de Bolsonaro a Trump chega a dar náusea. É puramente ideológica e em nada contribui para o Brasil. Aliás, prejudica, porque a contrapartida tem sido ruim para nossas exportações. A visita de Mike Pompeo é um novo capítulo da humilhação nacional”.
Líder da Minoria no Congresso Nacional, o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) afirmou que apresentará na Câmara um requerimento de convocação do ministro Ernesto Araújo, para que ele preste esclarecimentos sobre os motivos da “visita” do representante de Donald Trump. Além de Zarattini, o documento também é assinado por outros 34 deputados da Bancada do PT.
“Essa visita suscita muitas dúvidas. Ao que parece, EUA trabalham para que Brasil participe de pressões para a desestabilização do atual governo da Venezuela e para conspurcar o processo eleitoral, o que contraria os princípios constitucionais que regem nossa política externa”, apontou.
Companheira de partido, a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) afirmou que este é mais um indício da submissão do governo de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos e, portanto, mais um motivo para o impeachment do presidente.
“Existem motivos para abrir processos de impeachment contra Bolsonaro: Denúncias de corrupção, interferência na Polícia Federal para esconder crimes, atuar para fechar poderes, atacar a federação, não preservar vidas humanas, agir contra meio ambiente. E mais submissão aos EUA e descumprimento da Constituição”, listou a deputada.
Paulo Pimenta (PT-RS) mostrou-se indignado com mais um capítulo na novela Bolsonaro [loves] Trump. ”Em pleno processo eleitoral nos EUA, o governo brasileiro se sujeita a levar este indivíduo [Pompeo] para fazer provocação ao povo venezuelano, acompanhado do nosso chanceler. É uma ameaça? É uma provocação? É uma demonstração de covardia do governo brasileiro? É tudo isso”, esclareceu.
Ivan Valente (PSOL-SP) chamou o episódio de ‘vergonha nacional’. “Vassalo Ernesto Araújo recebeu o secretário de Estado Mike Pompeo em Roraima, em mais um ajoelhamento de Bolsonaro a Trump. Desta vez para provocar o povo da Venezuela. A diplomacia deste governo se coloca a serviço de reeleger Trump. Também no caso do etanol, rastejam. Vergonha nacional!”, disse, sem poupar críticas ao chanceler brasileiro.
Para o líder do PT na Câmara, deputado Enio Verri (PT-PR) declarou que Bolsonaro é um ‘sub-presidente’. “A presença de Mike Pompeo em Roraima é uma afronta porque é do modus operandi dos EUA e não há novidade. Porém, ela só acontece porque Bolsonaro é um dócil e servil sub-presidente que se orgulha de humilhar o Brasil, fazendo dele uma base militar para Trump atacar a Venezuela.”.
Pelas redes sociais, o chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza, mandou que Pompeo voltasse para casa. “Em campanha eleitoral rejeitada até pela direita brasileira, Mike Pompeo continua a ameaçar a Venezuela e confirma que a única ‘crise de origem humana’ que afeta o povo venezuelano é a criada por suas ‘sanções’ ilegais. Vá para casa, Pompeo”, disse.
Na sexta, Areazza acusou o governo brasileiro de suspender as credenciais dos funcionários que representam a Venezuela no Brasil e proibiu a circulação dos veículos da embaixada e dos consulados venezuelanos.