Novo ídolo dos bolsominions, Gabeira vive feliz num abraço hétero com a extrema direita. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 5 de agosto de 2018 às 11:22
Fernando Gabeira aguarda o “abraço hétero” de Bolsonaro

Um dos momentos mais bonitos da sabatina de Bolsonaro na Globo News se deu quando o candidato disparou: “Você sabe que sou apaixonado por você, né, Gabeira?”

Ao final, se animou mais: “Vou dar um abraço hétero no Gabeira agora!”

Conquistou o coração dos bolsominions. Mas Fernando Gabeira é ídolo da extrema direita há algum tempo. 

Vou repetir o que escrevi aqui:

Tem um passado na luta armada, sequestrou o embaixador americano Charles Elbrick, vestiu tanga de crochê e hoje é um convertido, alguém que enxergou a luz e abandonou a heresia marxista para ficar ao lado dos cidadãos de bem.

Subiu nos palanques do golpe e posou sorridente com os fascistas do MBL, a quem naturaliza com palavras melífluas.

Em 2017, escreveu que a milícia, “um movimento que se destacou na oposição ao governo de esquerda, tem uma clara opção liberal”.

Àquela altura, qualquer cidadão medianamente informado — e o Gabeira é jornalista — sabia das picaretagens da galera em nome desse liberalismo.

Ele não titubeou em apoiar a intervenção militar no Rio de Janeiro no dia seguinte ao decreto, num artigo que circulou bonito pela hordas bolsonaristas.

“Não tenho o direito de encarar o Exército com os olhos do passado, fixado no espelho retrovisor. Além de seu trabalho, conheci também as pessoas que o realizam”, escreveu, com autoridade auto outorgada em Haiti.

O mesmo Gabeira que passou pano numa farsa arquitetada pela Globo e por um governo corrupto foi convidado pela BBC a falar de Marielle Franco e se saiu com as mesmas relativizações.

Marielle sabia qual era o foco da operação e nunca hesitou em expôr a farsa. Onde ela era firme e determinada, o ex-deputado é um peixe ensaboado.

“Sua morte é um grande desafio e uma grande agressão a todos nós. Independente de posições politicas”, diz ele.

“Não acredito que tenha sido a intervenção militar que a matou. Mas sua morte poderia ser, potencialmente, uma reação à intervenção federal por parte dos setores da polícia que estão sendo atingidos”.

Que setores estão sendo atingidos??

Gabeira vive num mundo à parte, advogando uma causa que tem na execução de Marielle um símbolo de seu fracasso.

As “posições políticas” que ele desdenha fazem, sim, toda a diferença. Não fossem elas, Marielle provavelmente estaria viva.

Gabeira é o epítome do isentão (“Ninguém pode servir a dois senhores”, Mateus, 6:24).

Marielle tinha lado. O MBL tem lado. Gabeira finge que não tem. E, nesse sentido, é mais nocivo que os bolsonaros que abraça.

O que é isso, companheiro?