Núcleo bolsonarista admite que tarifaço de Trump foi “tiro no pé”; entenda

Atualizado em 10 de julho de 2025 às 14:30
Trump exibindo decreto sobre tarifaço global. Foto: Saul Loeb/AFP

Líderes da oposição realizaram uma reunião de emergência na noite de quarta-feira (9) para discutir como reagir à taxação de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos produtos brasileiros. O saldo do encontro foi considerado negativo por participantes, que classificaram a medida como um erro estratégico com potencial para prejudicar a imagem da direita no país.

“Foi um tiro no pé. Quem é que vai ser a favor disso? Quem é que vai ficar contra o país?”, questionou um líder bolsonarista do Senado presente na reunião, segundo Daniela Lima, da GloboNews. A decisão de Trump, que vinculou explicitamente a taxação ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF), pegou a oposição de surpresa e dividiu as estratégias de resposta.

O cenário se agravou quando o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) publicou um vídeo assumindo responsabilidade pela medida e reforçando críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e à própria Corte.

“Erro grosseiro, erro gravíssimo. Vai ter um custo isso para a imagem”, avaliou um aliado da família Bolsonaro. Percebendo a besteira que fez, o ex-presidente avalia entrar em contato direto com a Casa Branca a fim de aliviar o desgaste público da medida de Trump.

Enquanto a ala mais próxima a Bolsonaro, representada por Eduardo, endossou o discurso de confronto com o STF, outros núcleos da extrema-direita optaram por responsabilizar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo tarifaço, seguindo a linha do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Agora, até mesmo integrantes desse grupo, que se apresenta como “mais moderado”, reconhecem que meses de campanha por sanções internacionais contra Moraes fragilizam a credibilidade da narrativa. Pesquisas de opinião, como a realizada pela Nexus, mostram que o discurso em defesa da soberania nacional tem mais adesão do que a tentativa de culpar Lula pela crise com os EUA.

Eduardo Bolsonaro, que já responde a um inquérito por obstrução de Justiça, pode ter agravado sua situação legal com as declarações no vídeo. Ministros do STF avaliam que o conteúdo reforça indícios de crime.

Politicamente, o episódio tende a fortalecer Lula como defensor da soberania brasileira, enquanto expõe a família Bolsonaro a acusações de “traição à pátria”. “Isso vai ampliar a pressão para que o nome da direita não venha da família. É gás para o nome de Tarcísio”, admitiu um aliado.