Num país consciente, 13,1 milhões de desempregados provocariam uma revolução. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 29 de março de 2019 às 18:37
Mutirão de emprego forma fila gigante no Vale do Anhangabaú — Foto: TV Globo/Reprodução

O IBGE divulgou na manhã desta sexta (29) o número de desempregados no Brasil. Nada menos do que 13,1 milhões de cidadãos que simplesmente não conseguem encontrar um emprego no mercado de trabalho.

Os dados representam um aumento de 7,3% em relação ao trimestre anterior e escalam novos recordes nos índices que medem a força de trabalho subutilizado (27,9 milhões de trabalhadores) e o número de pessoas desalentadas, aquelas que já desistiram de procurar emprego (4,9 milhões).

A título de comparação, a legião de cidadãos brasileiros que tiveram suas vidas assoladas pelo fantasma do desemprego representa um contingente superior a toda a população do Uruguai e do Paraguai juntas.

É simplesmente um exército que, se devidamente consciente da luta de classes, provocaria uma verdadeira revolução nesse país na busca do reestabelecimento dos seus direitos constitucionais subtraídos e, consequentemente, de uma vida melhor para si e para suas famílias.

Não é à toa que a desinformação e a deseducação que reinam soberanos no Brasil atualmente sob as hostes de Jair Bolsonaro e Ricardo Vélez Rodríguez fazem parte de um projeto consistente de imobilização do povo frente aos desmazelos que lhes é imposto.

Está claro – apesar da inexplicável apatia – que o golpe de 2016 contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, o subsequente desmantelamento da Consolidação das Leis Trabalhistas no governo Michel Temer e a escandalosa incapacidade e inoperância do desastre Bolsonaro criaram as condições perfeitas para o atual estado das coisas no país.

Concomitante a tudo, só o cinismo e o desprezo pela inteligência alheia autorizam a grande mídia e os velhos partidos do coronelismo nacional a insistirem no disparate de que só a reforma da Previdência será capaz de mudar os rumos de uma nação que naufraga justamente pelas causas que serão aprofundadas através da sua eventual aprovação.

Marginalizar a imensa base de nossa pirâmide social, condição intrínseca da reforma da Previdência, é a receita infalível para o desastre que vai se avolumando não só no Brasil, mas em todos os países da América Latina que adotaram as velhas e ultrapassadas teorias no neoliberalismo como única saída econômica para suas crises internas.

A Argentina que o diga.

Definitivamente não existirá solução à vista, sequer a longo prazo, sem que a população se organize e se mobilize para frear o que Temer começou e Bolsonaro segue dando encaminhamento.

Junte-se 13,1 milhões de desempregados mais as dezenas de milhões de brasileiros que tiveram o mínimo de decência em não votar em Jair Bolsonaro, e estará dado o caminho para a retomada da democracia, para o Estado Democrático de Direito e para o Bem-estar social.