O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que, em agosto de 2023, o número de pessoas em situação de rua nas cidades brasileiras atingiu 227.087, mais de dez vezes o registrado em 2013 (21.934), representando um aumento superior a 1000%. O Ipea baseia-se nos dados do Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal para essas estatísticas.
Subregistro e Complexidade do Cenário
Apesar desses números preocupantes, o Ipea destaca que o dado real pode ser ainda maior, pois nem todos os moradores de rua estão cadastrados no CadÚnico. Esse cadastro, que compila informações sobre famílias em situação de pobreza, é fundamental para a implementação de políticas públicas.
Causas e Explicações para o Aumento
Diversos fatores contribuem para esse aumento significativo. A existência do cadastro em si é uma explicação, pois há 12 anos não havia lugar para marcar a população de rua no formulário. O autor do levantamento, Marco Antônio Carvalho Natalino, ressalta que o crescimento se deve ao maior número de pessoas em situação de rua cadastradas, permitindo acesso a programas sociais.
A crise econômica, a insegurança alimentar, a fome e os impactos da pandemia de COVID-19 são identificados como motivos adicionais para o aumento, levando até mesmo o Supremo Tribunal Federal (STF) a intervir em nome das obrigações do poder público para com essa população.
Principais Causas e Características da População de Rua
O estudo do Ipea aponta as principais causas que levam brasileiros a viver nas ruas: problemas familiares e com companheiros (47,3%), desemprego (40,5%), uso abusivo de álcool e outras drogas (30,4%) e perda de moradia (26,1%). A população de rua é caracterizada por exclusão econômica (54%), fragilização de vínculos familiares (47,3%) e problemas de saúde, especialmente relacionados à saúde mental (32,5%).
Perfil Demográfico da População em Situação de Rua
A maioria (68%) se declara negra, sendo 51% pardos e 18% pretos. Entre os brancos, 31,1%. As mulheres representam 11,6% da população adulta em situação de rua. A maioria dos brasileiros em situação de rua não mora na cidade de origem (60% são migrantes), mas 70% permanecem na unidade federativa de nascimento.
Duração da Situação de Rua e Política Governamental
Um terço está na rua há menos de seis meses, enquanto 47,9% estão há no máximo um ano. Cerca de 22,5% afirmam estar em situação de rua há mais de cinco anos. A relação entre o tempo na rua e as causas revela nuances importantes. O governo brasileiro, recentemente, lançou um plano de enfrentamento à situação de rua, prometendo investimentos de quase R$ 1 bilhão, reconhecendo a responsabilidade do Estado nesse cenário alarmante.
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