“Nunca fui ao Rio”, diz baiano confundido com líder do CV preso em operação

Atualizado em 1 de novembro de 2025 às 14:09
O motorista de aplicativo William Pinheiro Moura, de 31 anos, disse ao Jornal Correio que teme sofrer violência após a desinformação

O motorista por aplicativo Wiliam Pinheiro Moura, de 31 anos, morador de Vitória da Conquista (BA), foi erroneamente identificado por uma fonte policial como um dos líderes do Comando Vermelho presos em uma megaoperação no Rio de Janeiro. O erro o expôs a ameaças e difamações, apesar de ele jamais ter pisado na capital fluminense.

Wiliam conta que estava em casa, na hora do almoço, na quarta-feira (29), quando começaram a chegar dezenas de mensagens no celular — algumas com insultos, outras com ameaças diretas. As reportagens exibiam seu nome e foto, afirmando que ele havia sido capturado na operação que mobilizou forças policiais nos complexos do Alemão e da Penha, no dia 28.

“Fiquei sem chão. Sou trabalhador, nunca estive no Rio de Janeiro e, de repente, me vi acusado de algo que nunca fiz. Estou com medo e não saio de casa desde então”, relatou o motorista.

O advogado de Wiliam, Sadraque José Serafim Ribeiro, informou que avalia processar os responsáveis por injúria e divulgação de informações falsas. Segundo ele, a exposição do cliente o coloca em risco, especialmente porque Vitória da Conquista é uma cidade onde a disputa entre facções criminosas — CV e Bonde do Maluco (BDM) — é intensa. “A circulação da imagem dele associada a uma facção representa risco real à integridade física e à vida”, disse.

A confusão começou quando veículos de imprensa baianos buscaram confirmar, junto à Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), informações sobre criminosos do estado supostamente envolvidos na operação do Rio. Um agente da Polícia Civil forneceu nomes e fotos de suspeitos — e entre elas estava a de Wiliam, retirada de sua carteira de habilitação, sem que ele saiba como o documento foi acessado.

“Sou uma pessoa honesta, nunca perdi documento e nunca tive problema com a Justiça”, afirmou.

A repercussão atingiu também Paripá, sua cidade natal, onde familiares e conhecidos ficaram chocados com a notícia. “Minha família entrou em desespero. Meus amigos sabem da minha conduta, mas mesmo assim fui alvo de comentários e xingamentos”, contou.

Além do constrangimento, Wiliam passou a temer sair para trabalhar. Ele lembra que, em maio, outro motorista por aplicativo foi sequestrado e esquartejado em Eunápolis, após ser confundido com um informante da polícia.

Em um vídeo publicado nas redes sociais, Wiliam negou as informações: “Estão dizendo que fui preso no Rio, que estou sendo investigado. Isso é mentira. Nunca fui preso, nunca fui investigado. As medidas cabíveis já estão sendo tomadas.”

O advogado reforça que o caso será levado à Justiça. “Ele é um homem tranquilo, sem antecedentes e respeitado nas cidades onde viveu. Estamos apurando como essa informação foi parar nos veículos de imprensa e por que a imagem dele foi utilizada”, afirmou.

Enquanto tenta limpar seu nome, Wiliam permanece em casa, com medo de sair às ruas. “O que mais quero é poder voltar a trabalhar e ter minha vida de volta”, disse.