“Nunca se roubou tanto”: a escalada de FHC se deve ao fantasma de Lula 2018. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 18 de maio de 2015 às 19:59
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A transformação de Fernando Henrique numa Cassandra, personagem da mitologia grega portadora de más notícias, não é nova e não parece completa. A cada semana aparecem novos capítulos.

Com uma fome inesgotável pelo palanque e microfones à disposição, FHC tem sido uma verdadeira máquina octogenária de ressentimento. Ao jornal Financial Times, disse que o “atual sistema político do Brasil está quebrado”. Defendeu uma reforma política para restaurar a credibilidade.

Temos “uma mistura de parlamentarismo e presidencialismo”. Há uma falta de interesse da população na política. O ex-presidente fala como se ele e seu partido não tivessem nada a ver com os problemas que aponta. Isso tudo é resultado de “muitos erros que vêm ocorrendo nos últimos anos”.

Os pedidos de impeachment de Dilma são reflexo dessa crise.

Em Nova York, no evento em que foi chancelado Pessoa do Ano pela Câmara de Comércio dos EUA (pessoa do ano por quê?, é a pergunta que não quer calar), bateu pesado.

Numa plateia de, em tese, investidores, criticou a política econômica pós-2008. “Paulatinamente fomos voltando à expansão sem freios do setor estatal, ao descaso com as contas públicas, aos projetos megalômanos que já haviam caracterizado e inviabilizado o êxito de alguns governos do passado”, afirmou, numa auto-referência matreira.

A política externa ficou em silêncio diante do autoritarismo da Venezuela e do terrorismo do Estado Islâmico.

Todos os “malfeitos” vêm do governo Lula. O programa nacional do PSDB o traz um tom acima, declarando que “nunca antes na história desse país se errou tanto e se roubou tanto em nome de uma causa” e que “é preciso passar o país a limpo”.

O discurso revanchista engana a quem quer ser enganado. Não contribui para o debate, não leva a nada a não ser ao acirramento de um clima que já está pesado e é um amontoado de mentiras. Reforça todos os movimentos antidemocráticos.

Nesse mundo paralelo, a compra de votos para a reeleição não existiu, o PSDB não tem nada a ver com o mensalão mineiro, Beto Richa é uma miragem. Etc etc. Somos todos otários com panelas.

A figura eventualmente principesca de Fernando Henrique Cardoso sai diminuída, sobretudo. Não será absurdo pensar que esse discurso moralista dê lugar, num futuro próximo, a denúncias sobre o Foro de São Paulo, o bolivarianismo e o perigo do comunismo.

No Financial Times, ele lançou o nome do PT à presidência em 2018: “Não tem outra alternativa a não ser o Lula”. Bingo. Esse fantasma incomoda mais do que seria razoável supor o senhor de 83 anos.