O 1º de Maio vai gritar por mudanças. Por Vitor Nuzzi

Atualizado em 1 de maio de 2022 às 10:12
Dirigentes de centrais entregam documento a Lula. Em uma estação da CPTM, fazem panfletagem de convocação para o 1º de Maio (Fotos: Roberto Parizotti)

Por Vitor Nuzzi

Em um cenário que mistura crise econômica e instabilidade política, com efeitos potencializados pela proximidade das eleições, o principal evento do 1º de Maio deste ano será, ao mesmo tempo, um grito de protesto e um ensaio da formação do bloco que pretende impedir a reeleição do atual presidente. O palco da praça Charles Miller, diante do Pacaembu, na zona oeste de São Paulo, vai reunir, além de dirigentes de sete centrais sindicais, representantes de PT, PCdoB, Psol, PSB, MDB, Rede e Solidariedade. Com destaque para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deve formalizar na semana que entra sua candidatura, tendo o ex-governador e ex-tucano Geraldo Alckmin como vice.

Por um lado, o mundo do trabalho convive com anos de “flexibilização” das leis, cujo exemplo mais contundente é a “reforma” implementada em 2017 (Lei 13.467). Sob pretexto de criar empregos, a legislação foi alterada, mas ainda não se viram os postos de trabalho prometidos. Economistas reafirmam: emprego não se cria por decreto, mas com efetivo e contínuo crescimento econômico.

Inflação sobe, salário encolhe

A situação se agrava com uma trajetória de alta da inflação há quase dois anos. O INPC, referência de negociações salariais, beira os 12% acumulados. Os preços dos produtos da cesta básica sobem ainda mais. “Desde o começo da pandemia, o custo do conjunto de alimentos básicos teve acréscimo de R$ 243 em São Paulo, aumento de 47% entre março de 2020 e março de 2022”, aponta o Dieese. Itens do dia a dia – café, óleo, tomate – mais que dobraram de preço. O custo médio do botijão de gás saltou 57% em dois anos, de R$ 70 para R$ 109. E o consumo de carne em 2021 foi o menor dos últimos 25 anos.

A alta da inflação é outro fator que dificulta as negociações salariais. Em abril de 2020, por exemplo, seria necessário reajuste de 3,3% para repor perdas acumuladas nos 12 meses anteriores. Em abril deste ano, o índice subiu a 11,7%. Consequência: a quantidade de reajustes abaixo da inflação foi de 23,7%, em 2019, para quase metade (47,3%) no ano passado. Menos de 16% tiveram ganho real. Na última sexta-feira (28), o IBGE informou que o rendimento médio caiu 8,7% em um ano.

Ataques à democracia

Ao empobrecimento geral, somam-se os constantes pronunciamentos do presidente da República que abalam o já frágil equilíbrio político do país. São frequentes os ataques dirigidos, principalmente, a autoridades do Judiciário – leia-se Supremo Tribunal Federal (STF) e Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No ano passado, a insistência pelo projeto de “voto impresso” tornou o clima ainda mais tenso. Mesmo com a proposta sendo derrubada no Congresso, o presidente e seus aliados volta e meia tentam pôr em dúvida a legitimidade do processo eleitoral, criando um clima de incerteza sobre o reconhecimento do resultado, em caso de derrota.

A situação piorou com o caso Daniel Silveira. O deputado pelo PTB fluminense foi condenado pelo STF por atentar contra o Estado de direito, incluindo ameaças a ministros. O presidente da República concedeu “graça” ao aliado, que já havia descumprido ordem judicial e andava sem tornozeleira eletrônica. E, na semana que passou, ainda foi eleito 1º vice-presidente da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado da Câmara. Ele também tornou-se membro titular da importante Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ).

Até a véspera deste 1º de Maio, grupos de apoio ao presidente tratavam de espalhar informações desencontradas sobre um possível evento pró-Bolsonaro na principal data mundial dos trabalhadores. O mesmo governo que não recebeu nenhum dirigente sindical em seus 1.216 dias. E que a respeito de trabalho propôs, até agora, apenas mais flexibilização, como a frustrada tentativa da “carteira verde e amarela”.

Outros rumos

O presidente da CUT, Sérgio Nobre, considera o processo eleitoral de outubro como “as eleições da nossa vida, que vão definir como será o Brasil nos próximos 10, 20 anos”. Por isso, acrescenta, o 1º de Maio pretende mostrar, “ao país e ao mundo, que a classe trabalhadora quer o Brasil com outro rumo. Um Brasil com emprego, com desenvolvimento, com salário, direitos, proteção social, desenvolvimento sustentável, respeito à democracia e à soberania”. Nesse sentido, as centrais aprovaram documento unitário com suas propostas para o país (leia mais abaixo). O documento já foi entregue a Lula e ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), entre outros.

Organizado por CTB, CUT, Força Sindical, Intersindical, Nova Central, Pública e UGT, o evento está previsto para começar às 10h – deve terminar por volta de 18h. Terá também atrações artísticas, com shows de Daniela Mercury, Francisco El Hombre, Leci Brandão, Dexter, DJ KL Jay. Haverá transmissão ao vivo pelas redes sociais das centrais e pela Rede TVT.

(Texto originalmente publicado em REDE BRASIL ATUAL)

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