O clássico erótico que esqueci

Atualizado em 24 de maio de 2013 às 16:45
Obra prima

Fiz para a Playboy a lista dos 10 melhores romances eróticos da história da literatura.

Só fui me dar conta da injustiça que cometi quando reli um grande livro no iPad: O Amante de Lady Chatterley,  de DH Lawrence.

Não o coloquei na lista. Errei.

É um primor, e não apenas pelo intenso conteúdo sexual. A força da narrativa, a limpidez da prosa, o ritmo da história são primorosos.

Lady Chatterley merece um lugar ao lado de Madame Bovary, Capitu e Ana Karênina como uma das mais notáveis adúlteras da ficção.  O marido, impotente e aleijado por um ferimento na Primeira Guerra, não a pode satisfazer como mulher.  Ela tem fogo, e ele se transformou em gelo. O resto é consequência.

É tamanha a importância da obra de Lawrence que um intelectual situou o início do movimento de libertação sexual em algum ponto entre o fim do banimento de O Amante de Lady Chatterley e a chegada dos Beatles. (O livro permaneceu proibido do final dos anos 20 até o começo dos 60, sob o argumento de que é obsceno.)

Há uma sabedoria notável no romance de Lawrence.

Numa conversa, perguntam a um homem se ele acredita no amor. A resposta é não. “No que você acredita?, então?”, continuam. “Eu? Ah, intelectualmente eu acredito em ter um bom coração, um pênis firme, uma inteligência vívida e a coragem de dizer ‘merda’ na frente de uma dama.”

Sócrates não diria coisa mais sábia.

NO homem feliz é essencialmente o homem potente. Nm livro, Philip Roth conta o dilema de um homem entre a vida e a potência. Cardíaco, teria que tomar remédios que o inviabilizariam como amante. Ele prefere morrer potente.

São atuais e provocativas as conversas que você vê no livro de Lawrence sobre homens e mulheres em sua eterna luta para se compatilizar e se satisfazer sexualmente.

Lawrence traça um retrato soberbo da classe privilegiada inglesa nos primórdios do século XIX. O império britânico já começava a se desintegrar. Lady Chatterley, numa cena, é sodomizada pelo caseiro da propriedade de seu marido.

É simbólico.

Mais que apenas uma lady, era toda uma casta de privilegiados e esnobes – a upper middle class, cultivada ao longo de muitas décadas de exploração das colônias – que estava sendo submetida a uma sodomização da qual jamais se recuperaria inteiramente.