Publicado originalmente no Tijolaço:
Por Fernando Brito
Depois dos palavrões de ontem, é difícil imaginar qual será a provocação que Jair Bolsonaro reserva para hoje, na nova motociata que liderará, desta vez em Florianópolis.
Mas que haverá novas bravatas, ao contrário, é certeza. Porque Bolsonaro não vai, como dizem os gaúchos, “afrouxar o garrão”, ao contrário.
Seu campo predileto é este: o da lama, das ofensas, de ser o falso “anti-sistema” do qual, afinal, é o mantenedor.
Reparem que foram necessários 31 meses de desastre para que, só agora, apareçam no empresariado vozes dissonantes ao governismo.
O argumento que o presidente da Câmara, Arthur Lira, manda divulgar em defesa de sua absurda decisão de levar a plenário o derrotadíssimo projeto para restaurar a contagem manual dos votos, sob o argumento de que, rejeitada pela maioria dos deputados, Bolsonaro terá de reconhecer que não pode mais brandi-la em seus desafios é uma tolice e uma tolice com antecedentes.
Desde quando Jair Bolsonaro se verga a decisões soberanas de outros poderes? Será que todos não o estão vendo usar decisões unânimes do STF, até hoje, como justificativa para o desastre que foi o enfrentamento da pandemia no Brasil?
O discurso será que o Congresso (ou “a esquerda”, como preferirá dizer) o está impedindo de fazer eleições limpas. E, se conseguir uma votação numericamente superior, embora insuficiente para alcançar os 308 votos necessários a mudar a Constituição, ainda criará a mistificação de que “a maioria” expressou-se a seu lado.
É inútil achar que Jair Bolsonaro será detido com as artes da política, as réguas da racionalidade ou mesmo os freios e contrapesos das instituições.
Só há uma lógica em sua ação: reunir a selvageria e manter o poder pela intimidação.
Ele é, para usar a expressão do seu colega de motocicleta e de sordidez Roberto Jefferson, um ser dos “instintos mais primitivos”.
Como tal, só pode ser parado pelo medo, porque nem a solidão amansa o lobo.
Ainda mais porque se crê, nos cortejos da morte que encabeça e no senhor dos exércitos que imagina ser para sempre, a encarnação de um Messias mau, de um anticristo da fé.