Senhoras e senhoritas: essa é a oportunidade de vocês finalmente se igualarem aos homens, pelo menos nos aspectos mais negativos. Seja uma usuária do Lulu.
Trata-se de um aplicativo para smartphone que acaba de chegar no Brasil, depois de um ano de sucesso nos Estados Unidos. Com ele, as mulheres podem carregar avaliações sobre os homens com quem ficaram, transaram e namoraram. Funciona assim: ela carrega o perfil da “vítima” usando informações do Facebook e escolhe hashtags de uma lista que, na sua opinião, se aplica a ele. Há hashtags boas e ruins. Como , #semmedodeserfofo, #TaradoDoJeitoCerto, #NuncaPassaANoite, #lindotesãobonitoegostosão, #piormassagemdomundo e até #tocavuvuzela (??).
A partir destes comentários, os algorítimos trabalham, fazendo uma combinação secreta de fatores, para produzir uma nota de 1 a 10. Assim, as outras usuárias escolhem seus parceiros levando em conta a nota e o histórico de comentários que receberam. A mina quer um bonitinho safado? Tem lá. Quer um nerd fiel? Também temos. Ou será melhor pegar um lobo velho mas bom de cama? Consulte o cardápio.
É claro que eu quero receber uma nota alta — se possível um 10. Isso pode resolver meus problemas românticos pelos próximos seis meses.
Mas pensando bem, não consigo deixar de evitar uma sensação de que eu e meus colegas heteros estamos definitivamente nas prateleiras do consumo sexual. Está oficialmente lançado o “homem-objeto”, a versão masculina de um conceito sexual que nunca foi exatamente motivo de orgulho para ninguém. É o reino das “femistas”, a versão feminina dos machistas.
As mulheres devem estar muito orgulhosas desse feito. Já que não conseguiram conquistar plenamente os mesmos direitos profissionais, sociais e familiares, pelo menos chegaram à perfeita igualdade na área sexual — aproveitando todos os aspectos negativos do comportamento masculino.
Sim, a gente compreende. Elas precisam de algumas referências antes de ficar com o cara que provavelmente conheceram no facebook ou em algum site de relacionamento por aí. Precisam saber se o cara é fofo, romântico, bem dotado, acredita em Deus, é “tipo família”, manda bem na cama ou tem carreira promissora. Melhor ainda se todos esses aspectos forem condensados numa nota derradeira e definitiva.
Mas como será a escolha, afinal? Haverá aquelas mais flexíveis que encaram um marmanjo com nota inferior a 6? Será que nesse momento aquela princesinha dos jardins está torrando seus miolos para rejeitar todos aqueles com menos de 9?
Mas o pior mesmo deste cenário é que os homens estão preparados, e desejosos, de entrar nessa prateleira. Segundo o New York Times, mais de 500 mil homens americanos solicitaram uma avaliação no programa. Alguns até fazem campanha nas redes sociais para receber hashtags positivos e notas melhores. No entanto, homens não podem entrar no aplicativo: a versão masculina permite apenas alterar a foto e sugerir hashtags, que não são computados na nota final.
Tudo indica que, aqui no Brasil, a mulherada vai aderir em massa ao Lulu. Até porque já adotam a prática da avaliação mesmo sem ter o aplicativo. Os tempos mudaram. Antes do advento das maravilhas tecnológicas contemporâneas, os casais se encontravam, se interessavam e até se apaixonavam sem exatamente conhecer um ao outro — o que acontecia só com o tempo. Hoje, não. É preciso ter todos os tipos de referências para então iniciar um contato e, eventualmente, algum tipo de relacionamento. A escolha migrou do emocional para o racional. E somos todos apenas mais um prato de um extenso cardápio.
Mas nem tudo está perdido. Há aquelas que não se conformam com esse tipo de atividade. É o caso de Ana Idris, escritora e analista de sistema. Jovem, 26 anos, bonita e solteira, ela tem o perfil perfeito para ser usuária do Lulu. Mas revoltou-se com a ideia. “Parece coisa de ‘aborrescente’ desmiolada. Mas quem usa são mulheres bem crescidinhas que adotam discursos distorcidos do feminismo como justificativa para dizer que a mulher evoluiu e também tem o direito de julgar os homens. Poxa, se o cara é um bosta, cria a vergonha na cara e fale diretamente pra ele, em vez de ficar expondo sua revoltinha da maneira mais covarde do mundo, o anonimato”, diz ela, que não tem namorado, repudia relacionamentos superficiais e prefere estar sozinha do que mal acompanhada.