Você conhece Billy Van? Eu também não conhecia. O DJ americano é o artista mais pirateado do Brasil. A diferença é que ele gosta e trabalha para isso. Esse é um dos dados mais instigantes de um estudo exaustivo realizado pela empresa inglesa de pesquisa Musicmetric em parceria com o BitTorrent, a ferramenta de compartilhamento de arquivos. É o levantamento mais extenso e aprofundado sobre pirataria, feito de janeiro a julho. Houve mais de 3 bilhões de downloads ilegais de música. O Brasil está em quinto lugar, com 19 milhões, atrás de Estados Unidos, Reino Unido, Itália e Canadá. http://www.musicmetric.com/
A cantora Rihanna é a mais baixada no planeta, com o disco Talk That Talk, seguida por Billy Van, Adele, Gotye e Drake. “Saber exatamente o que os fãs querem sempre foi o Santo Graal das gravadoras. Entender o que os mobiliza será vital para a indústria nos próximos anos. O desafio para os detentores de direitos autorais é encontrar maneiras de ganhar dinheiro”, disse o CEO da Musicmetric, Gregory Mead, que rastreia informações de mais de 600 mil artistas e 10 milhões de pessoas (sorria, você pode estar sendo seguido).
Billy Van não é o primeiro apenas por aqui, mas na Grécia e na Romênia. No entanto, ao contrário de seus colegas, Van estimula que as pessoas baixem seu trabalho de graça, pedindo “doações” em seu site http://billyvandubstep.com/: 15 dólares por uma cópia do CD e 2 500 para ele tocar na sua festa. Você só precisa deixar seu email. Billy é de Indiana e tem 21 anos. Seu estouro não foi por acaso: a companhia Fame House traçou uma estratégia para transformá-lo num fenômeno da internet. Quando foi descoberto pela Fame House, ele tinha um vídeo no YouTube com 150 mil visitas e perto de 2 mil fãs no Facebook. Ao ser promovido nos sites de pirataria, viu seu disco ganhar 7 milhões de downloados em um mês.
Como ele fatura? Claro que a remuneração pela venda não pagas as contas. Mas Billy tem conseguido cada vez mais contratos como produtor. Despertou o interesse de grandes selos. Acabou de voltar de uma turnê na Costa Oeste dos EUA, com 19 apresentações. De acordo com o dono da Fame House, Michael Fiebach, nós estamos vivendo na era da “economia da atenção”. “Marketing criativo para conteúdo excepcional. O dinheiro virá com a atenção”, diz.
O resultado a que a Musicmetric chegou não é uma notícia agradável para as gravadoras, mesmo quando elas se esforçam para vender produtos através da Apple Store ou de serviços de streaming como o Spotify. As chamadas majors precisam manter escritórios, músicos de estúdio, engenheiros de som etc. São estruturas pesadas. E há uma tendência crescente das pessoas procurarem música de graça. A saída é um modelo em que o álbum vira uma peça promocional para os shows. Na Inglaterra, o site Pirate Bay, o maior do planeta em pirataria, com 30 milhões de usuários, foi bloqueado, o que não impediu que as pessoas baixassem coisas de outros lugares. No Brasil, o Pirate Bay segue firme e forte, com torrents de músicas, videos, programas de teve, seriados, tudo ilegal. E Billy Van continuará o rei dos piratas, ao menos pelos próximos meses, até que alguém consiga mais atenção do que ele.