O “ataque” ao prédio de Carmen Lúcia não foi vandalismo, foi a ponta do iceberg. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 8 de abril de 2018 às 9:43
O prédio de Cármen Lúcia é pichado

O Jornal Nacional chamou de vândalos – cadê a novidade? – o grupo de manifestantes que protestou em frente ao prédio em que ela tem um apartamento (que, é bom dizer, estava vazio) com balões e tinta vermelha.

Entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Uma demão de tinta branca resolve. Cármen nem precisou chamar o pintor: Membros do MBL enrolaram-se em bandeiras do Brasil, amenizaram o estrago pagaram de heróis.

Cômico.

O povo do MST que pintou o edifício representa uma parcela da população – talvez a parte mais corajosa dela – que já não suporta a tensão política dos últimos anos.

Que assistiu ao patético espetáculo do voto do golpe na Câmara dos Deputados, perplexo e de mãos atadas. Que viu ministérios sem mulheres, sem negros, sem jovens. Que ouviu, em rede nacional, o lamentável áudio de Jucá. “Com o Supremo, com tudo.”

Cármen Lúcia preside uma instituição em crise de legitimidade, que já não tem, há algum tempo, o respeito do povo. “Com o supremo, com tudo” não é uma boa frase de se engolir, Excelência.

Convenhamos: a tinta vermelha no prédio de uma ministra que corroborou com um golpe judiciário parlamentar, e hoje preside a maior corte do país, não foi vandalismo, foi, no máximo, aquele gol de consolação do sete a um contra a Alemanha.

A simbologia que o ato carrega vai além disso: é a resposta pacífica – que não se compara aos tiros à caravana do ex-presidente Lula – e tímida, em certo ponto, de uma esquerda que há muito não reage incisivamente, muito menos violentamente.

Esse ato – tantos outros, como vidraças de bancos quebradas (quanto pesar!) – são muito pouco perto do sentimento de impotência que a crise política, jurídica e institucional que vivemos nos traz.

Vandalismo é presidente da república sem voto. Vandalismo é prenderem Lula por um triplex que está em nome da OAS, e não prenderem ninguém por um helicóptero de cocaína, vandalismo são ministérios de homens brancos e velhos, é que sejamos obrigados a viver como ovelhinhas que seguem a trilha do retrocesso.

Mas para o JN – e a “grande” mídia – são os “vândalos” perigosíssimos que não conhecem sequer uma arma porque preferem tinta e pinho sol-, como Rafael Braga, por exemplo – o alarmante problema.

Que meda.

Na próxima, quem sabe, explodem o Planalto.