Doar suas peças da grife a um mendigo, para questionar o posicionamento da marca, é o mesmo que chamá-lo de “feio e sujo”.
Quando o CEO da Abercrombie & Fitch, Mike Jeffries, afirmou que desejava apenas “gente magra e bonita” usando as roupas de sua grife, houve uma indignação generalizada quanto ao posicionamento da marca. “Em toda escola existem os garotos populares e os que não são bacanas”, disse Jeffries. “Sinceramente, nós preferimos os cool. Nós perseguimos os garotos atraentes, com uma atitude positiva e montes de amigos. Muitas pessoas não cabem em nossas roupas. E não é para caber, mesmo. Somos exclusivistas? Totalmente.”
Um dos resultados de suas declarações ignorantes foi o surgimento dos movimentos Fitch The Homeless (nos EUA) e Abercrombie Popular (no Brasil). Ambos incentivam os donos da Abercrombie & Fitch a doarem suas peças a mendigos, como forma de protesto a Jeffries. A ideia de seus criadores (o americano Greg Karber e o paulista Isaias Zatz, respectivamente) é “reposicionar” a empresa no mercado. O único problema deste movimento ativista é que ele possui uma proposta tão ignorante e preconceituosa quanto as ideias de Jeffries que deram origem a ele.
Num primeiro momento, a campanha pode parecer incrível. Mas se você pensar por um minuto — opa, espera aí. Isso é a mesma coisa que dizer que os moradores de rua são “feios e nojentos”, em oposição aos garotos populares nos quais a grife é focada. Tanto Karber quanto Zatz estão afirmado o seguinte ao se livrarem de suas peças: “O presidente dessa empresa é um idiota. Então eu, o cara bacana que eles querem vestindo as suas roupas, vou puni-los doando minhas peças para as pessoas mais sujas que eu encontrar por aí, os moradores de rua. Isso vai ensinar uma lição àquele CEO sem vergonha.”
As campanhas de Karber e Zatz servem, apenas, para reforçar a segregação sugerida por Mike Jeffries. A nossa sugestão? Don’t Fitch The Homeless. Apenas deixe a sua camisa guardada na gaveta. E se você quiser realmente fazer um favor aos moradores de rua, doe uma peça da qual você não tem vergonha da usar na rua.