O Brasil perdeu uma geração de velhos para a iniquidade. Foram-se o decoro, a educação, o verniz social, até mesmo a hipocrisia.
A organização Rio de Paz fez na praia de Copacabana um protesto contra a traagédia do governo federal no combate ao coronavírus.
Cruzes foram fincadas na areia.
Eis que um cidadão de bem invadiu o protesto e derrubou várias delas, gritando impropérios.
Outro homem colocou-as no lugar.
“Meu filho morreu com essa merda aí. Vinte e cinco anos! Respeita os outros”, pedia.
Um bolsonarista que acompanhava o vândalo tentou intimidar o pai indignado: ele estava “falando com um senhor”.
Como se a idade conferisse salvo conduto.
Perdemos pais, mães e tios para o bolsonarismo.
Nelson Rodrigues era um cultor da velhice.
Declarava-se uma “múmia, com todos os achaques das múmias”. Recomendava aos jovens: “envelheçam”.
As ruas foram tomadas por idosos histéricos.
Uma barreira psicológica foi rompida coletivamente nos últimos anos.
O normal é ser canalha na aposentadoria e fazer troça de defuntos.
Em “Um Conto de Natal”, a história da redenção de um ancião mesquinho visitado por três fantasmas, Charles Dickens escreve que “a escuridão era barata, por isso Scrooge gostava dela”.
Os velhos brasileiros precisavam de luz e calor, hoje vivem de trevas.
— riodepaz (@riodepaz) June 11, 2020