O ato de protesto no Rio e os velhos vândalos bolsonaristas que não respeitam os mortos. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 11 de junho de 2020 às 17:36
Homem derruba cruzes de protesto em Copacabana (foto: CARL DE SOUZA/AFP)

O Brasil perdeu uma geração de velhos para a iniquidade. Foram-se o decoro, a educação, o verniz social, até mesmo a hipocrisia.

A organização Rio de Paz fez na praia de Copacabana um protesto contra a traagédia do governo federal no combate ao coronavírus.

Cruzes foram fincadas na areia.

Eis que um cidadão de bem invadiu o protesto e derrubou várias delas, gritando impropérios.

Outro homem colocou-as no lugar.

“Meu filho morreu com essa merda aí. Vinte e cinco anos! Respeita os outros”, pedia.

Um bolsonarista que acompanhava o vândalo tentou intimidar o pai indignado: ele estava “falando com um senhor”.

Como se a idade conferisse salvo conduto. 

Perdemos pais, mães e tios para o bolsonarismo.

Nelson Rodrigues era um cultor da velhice.

Declarava-se uma “múmia, com todos os achaques das múmias”. Recomendava aos jovens: “envelheçam”.

As ruas foram tomadas por idosos histéricos.

Uma barreira psicológica foi rompida coletivamente nos últimos anos.

O normal é ser canalha na aposentadoria e fazer troça de defuntos.

Em “Um Conto de Natal”, a história da redenção de um ancião mesquinho visitado por três fantasmas, Charles Dickens escreve que “a escuridão era barata, por isso Scrooge gostava dela”.

Os velhos brasileiros precisavam de luz e calor, hoje vivem de trevas.