O ato pelas diretas no Largo da Batata dá mais um empurrão em Temer. Por Pedro Zambarda

Atualizado em 4 de junho de 2017 às 23:35
Largo da Batata, SP, 4 de junho de 2017

Com duração de mais de sete horas, o ato pelas Diretas Já no Largo da Batata, em São Paulo, reuniu 100 mil pessoas, segundo a Frente Povo Sem Medo, a CUT e as centrais sindicais de esquerda que trouxeram artistas da nova MPB.

A Guarda Civil Metropolitana calculou só 10 mil, o que apareceu no Fantástico da TV Globo. A PM de Alckmin resolveu não competir e não divulgou dados.

Mas quem estava lá sabia da energia da revolta dos presentes, que curtiram Emicida, Maria Gadú, Péricles, Paulo Miklos, Otto, Tulipa Ruiz, Edgard Scandurra, Pitty, Rael, Criolo e Mano Brown.

Marcado para começar às 11h, o ato já mobilizava o carro de som desde uma hora antes. O primeiro show pela manhã foi de Chico César, que tocou “Mama África” em homenagem a Bob Marley e diferentes músicas antes de ir para outra apresentação em Ribeirão Preto.

Logo após, Guilherme Boulos (MTST) e Carina Vitral (UNE) fizeram discursos. A economista Laura Carvalho aproveitou para lembrar que a eleição indireta pelo Congresso corrupto vai “colocar outro Temer no poder”.

Os shows principais começaram às 15h, com uma hora de atraso, quando Emicida subiu ao palco. Ele berrou “primeiramente…” seguido por inúmeros Fora Temer do público.

O rapper emendou “libertem Rafael Braga”, referindo-se ao jovem negro e pobre condenado a 11 meses de prisão após ser detido nas Jornadas de Junho de 2013. Muitos líderes do movimento negro endossaram.

O empresário Alê Youssef puxou um grupo de 30 blocos de Carnaval para animar o protesto. Fez isso no palanque no ato pelas Diretas e nas ruas de Pinheiros, ao redor do Largo da Batata.

O Largo da Batata pegou fogo com a chegada de Pitty, Criolo e Mano Brown, que foram fortemente assediados por fãs e não deram entrevistas à imprensa.

Políticos de partidos de esquerda foram ao ato dar seu testemunho sobre o momento do país após a delação premiada da JBS comprometer Michel Temer e os aliados do governo pós-golpe, como o tucano Aécio Neves.

A estudante Ana Júlia Ribeiro, secundarista que defendeu os protestos em escolas de Curitiba e filiou-se ao PT, esteve no evento.

“O processo do golpe, não só comigo mas com as pessoas em geral, é algo que desestabiliza. Nossa frágil democracia está indo por água abaixo. No entanto, também é um processo que nos fortalece como movimento popular para pressionar governos de acordo com o que o povo precisa. O povo quer e precisa de políticas públicas. Ele não quer caridade. Como a gente retrocedeu tanto em pouco tempo!”, disse ao DCM.

Para ela, o PT é atacado porque é mais conhecido, mas o golpismo visa minar políticas de partidos de esquerda.

Para Otto, a mobilização popular é a única forma de sair do “buraco do impeachment”.

O jornalista José Trajano, ex-ESPN, deu o seu testemunho sobre o ato: “Diretas Já pra mim é tudo. Tô aqui emocionado com o som do Criolo com o Largo da Batata coalhado de gente. Não podemos sair das ruas!”.

Quando o DCM perguntou sobre o papel do jornalismo nas atuais denúncias, Trajano respondeu que é “relativo”. “Se for o de vocês [mídia alternativa], parabéns”. Ele chamou a grande mídia de “c*”.

O vereador Eduardo Suplicy chamou os atos de João Doria na Cracolândia de maior retrocesso da sua gestão e um “profundo desrespeito” com os moradores da região, o que pode afetar suas pretensões presidenciais. As vereadoras Isa Penna e Sâmia Bomfim, ambas do PSOL, enquadraram o ato pelas Diretas como uma reunião para “ampliar vozes” junto com o deputado Carlos Gianazzi.

Mas o depoimento que melhor resume a pressão estampada no rosto das pessoas no Largo da Batata veio de Guilherme Boulos.

“A rua vai definir. Se depender de Brasília é ou ‘Fica Temer’ ou [eleições] indiretas. É o que eles querem e é a saída deles para preservar a agenda desastrosa das reformas. Maioria do povo brasileiro não quer isso e quer as Diretas Já como as pesquisas mostram. Temos que transformar isso num caldo de rua. Temos que transformar esse pensamento e essa vontade da maioria em muita mobilização social. Disso vai surgir o futuro do país”, frisou.

Boulos promete mais greve geral em junho. Se Temer diz que para sair do governo as pessoas tem que matá-lo, ele tem que tomar cuidado pra não tirar a rua do sério.