O aviso do homem da Coca-Cola. Por Moisés Mendes

Atualizado em 9 de outubro de 2025 às 11:54
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Foto: Reprodução

Ao se desculpar pela piada sobre o seu refrigerante preferido (“no dia em que começarem a falsificar Coca-Cola, eu vou me preocupar”), Tarcísio de Freitas deixou um aviso no vídeo que produziu:

“Não é a primeira vez que eu venho aqui pedir desculpas e não será a última”.

É quase uma ameaça. O extremista moderado já admitiu, em discurso trepado no caminhão de Malafaia, que não seria nada na política sem Bolsonaro.

Já colocou na cabeça, em êxtase, o boné da América grande de novo de Trump. Já disse, também no trio elétrico de Malafaia, que Alexandre de Moraes é tirano e ditador.

E agora confessou que não tá nem aí para as mortes por metanol (como não estava quando sua polícia matava negros e pobres na Baixada Santista), porque só bebe Coca. E Coca normal, com açúcar.

Tarcísio é o Tiririca do bolsonarismo. Como governador, não produziu até hoje um fato que marque o governo.

É alienado em relação à presença do crime organizado em São Paulo, onde o PCC lava dinheiro na Faria Lima, em postos e em empresas de ônibus.

É inconfiável para o bolsonarismo, e para o próprio Bolsonaro, por não conseguir se impor, apesar do cargo que ocupa, como o nome capaz de enfrentar Lula em 2026.

A piada da Coca-Cola dá a dimensão da sua figuração dentro da direita. Quando a população esperava uma manifestação forte do governante, o sujeito avisou que toma Coca normal e que o resto que beba o que quiser,
porque essa não deve ser sua preocupação.

A ameaça de que outro pedido de desculpa pode ser feito logo adiante é sua porção de sinceridade em meio a vacilos, omissões e exposição de incompetência, como quando do assassinato do delegado Ruy Fontes, um servidor jurado pelo PCC que não dispunha de nenhuma proteção do Estado.

Tarcísio de Freitas diz no vídeo com o pedido de desculpas que sua fala foi mal interpretada. Se foi, não precisava pedir desculpas.

A falta foi muito bem interpretada. O que ele quis dizer é isso mesmo. O negócio é beber Coca-Cola e arrotar um poder que nem Malafaia respeita.

Sabotagem

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o presidente Lula no Palácio do Planalto. Foto: Ricardo Stuckert/PR

O governador extremista moderado da Coca-Cola liderou na Câmara a direita e a extrema direita para sabotar a tentativa do governo Lula de tributar as bets, as fintechs que lavam dinheiro do PCC e os ganhos de quem vive de aplicação financeira.

Mas o povo fica sabendo dessa sabotagem? Fica nada. O bolsonarismo sabe que essa é uma informação que não chega aos pobres que pagam impostos.

O fascismo fez a festa no Congresso.

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/