PUBLICADO NO TIJOLAÇO
POR FERNANDO BRITO
O espetáculo oferecido ontem na troca de desaforos entre Joyce Hasselman e o senador Major Olímpio, duas figuras de proa do bolsonarismo dá ideia do grau de alucinação que povoa as cabeças este governo.
Acusam-se mutamente de “moleques” e, como não é raro nestas situações, ambos têm boa dose de razão.
E, como também é frequente, pouco importa se a têm: o relevante é o que isso produz.
O prsidente e seus apoiadores, com esta incapacidade de construir qualquer acordo, produzem uma paralisia no processo de articulação entre Executivo e Legislativo – de resto coisa quase ausente nestes meses – que, até agora, tem nos poupado de efeitos maiores apenas porque, na última hora, costuram-se acordos emergenciais que acabam por dar soluções provisórias aos impasses.
Mas sempre “soluciona-se” com a faca no pescoço e estressando todo o processo com o correr do relógio e as ameaças do “senão…”. Como é praxe, para muitos deles é a esperança em receber o que, digamos, seria uma “taxa de urgência”.
Já não há confiança sequer para um acordo de plenário, a coisa mais corriqueira da política e o espanto dos deputados de direita e centro direita deu lugar à indignação com a exposição chantagista que deles se faz.
Jair Bolsonaro começou o mandato com muito mais apoio do que tem, hoje. Ele, mais do que ninguém, erodiu a base que, meses atrás, parecia imensa e invencível. Ontem, sem muito alarde da imprensa, viu a sua autonomia em legislar por Medidas Provisórias reduzida de 120 para 40 dias, período em que, não se manifestando as comissões da Câmara que as irão analisar, perderão a validade.
O presidente, no entanto, parece mais preocupado em ir fazer campanha eleitoral – como fizera na visita a Israel – na Argentina, onde vai emprestar seu imaginário prestígio entre “los hermanos” para apoiar Mauricio Macri e xingar Christina Kirchner, enquanto o relógio corre para o prazo de autorizarem-se os creditos que permitam o funcionamento da administração federal.
Mas, que importa? O Estado é mesmo uma aberração e, parando, também para de “bufar no cangote” dos empresários, não é?
Não é que não tenhamos um mau governo, apenas. Temos um não-governo.
PS. Quem não viu, assista o vídeo da troca de amabilidades entre Hasselman e Olímpio, ontem à noite, abaixo: