O beijo de Adnet é notícia? Uma discussão estritamente jornalística sobre o ‘escândalo’

Atualizado em 8 de novembro de 2014 às 9:33
Vítima da mídia
Vítima da mídia

Passo pelo UOL e vejo que as duas matérias mais lidas são sobre o beijo do humorista Marcelo Adnet numa mulher que não a sua, Dani Calabresa.

Ontem, essa “notícia” estava em todos os sites, sempre entre as mais consumidas.

No Facebook, alguém publicou a nota que a Veja deu sobre o beijo. Ri ao ler um comentário: “É culpa da Dilma!”

Mas meu ponto é o seguinte: isto é mesmo notícia?

Não, não é.

É fofoca, e das sórdidas, e ajuda a entender por que o jornalismo e os jornalistas são tão detestados e desprezados.

Os que defendem que este tipo de lixo é notícia costumam dizer que celebridades são figuras públicas, e por isso não teriam direito a privacidade.

É um disparate.

Na Inglaterra, nos últimos anos, depois do caso do tabloide que invadiu a caixa postal de uma garota sequestrada e morta, se rediscutiu a fundo o jornalismo.

Os tabloides caçavam cruelmente celebridades e davam qualquer coisa que pudesse gerar vendas.

No debate jornalístico sobre o que é legítimo noticiar e o que não é, os ingleses chegaram a um consenso: mesmo quando se trata de celebridades, invasão de privacidade só se justifica quando há um claro interesse público em questão.

Imagine um jogador de futebol que ganhe dinheiro com campanha contra o consumo excessivo de bebida. Se ele é flagrado bêbado, isto é notícia.

No caso de Adnet, nada justifica a torrencial cobertura dada a seu beijo.

Não existe nenhum interesse público no assunto. É uma coisa que importa apenas às partes: Adnet e as duas mulheres envolvidas, a que recebeu o beijo e Dani Calabresa.

Os três são vítimas da mídia.

Dani Calabresa foi exposta a uma humilhação pública cruel. Adnet se viu no meio de um escândalo que remete, pelo teor patético, à peça Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues.

E a mulher que trocou o beijo se viu também numa exposição embaraçosa e traumatizante. No imaginário popular será a “destruidora de lares”, a “vagabunda”.

O DCM se orgulha em nadar contra essa corrente.

Não queremos cliques vinculados a este tipo de futrica.