O bolsonarismo é muito pior que o período Collor. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 1 de maio de 2021 às 22:58
Collor e Bolsonaro em jet ski
Publicado originalmente no Facebook do autor:
Quem tem idade suficiente, lembra do choque que era ver Collor e sua turma no poder, no começo dos anos 1990.
Sarney, que tinha chegado à presidência por uma má sorte do destino, se sustentava no que ele mesmo gostava de chamar “a liturgia do cargo” – além do Centrão franciscano e dos militares, é claro.
(“Franciscano” em referência ao líder do Centrão na época, o deputado Roberto Cardoso Alves, que definiu cinicamente a doutrina do grupo citando Francisco de Assis: “É dando que se recebe”.)
O contraste foi enorme. Seu sucessor veio embalado por deslumbramento, ostentação noveau-richista e melodramas públicos de quinta categoria. O país era (mal) governado entre passeios de jet ski, banhos em cachoeiras artificiais e boleros calientes.
Pois o bolsonarismo é muito pior. Nem preciso falar de Bolsonaro e filhos. Basta observar o comportamento de Guedes, de Milton Ribeiro, de Salles, dos generais todos. Ver ministros reunidos é como ver faria limers saindo do bar, trôpegos, no final da noitada. É uma mostra grotesca de arrogante incultura, incivilidade e descaramento.
O bolsonarismo vende esse estilo como “autêntico” e mesmo “popular”. Na verdade, é o contrário.
A circunspecção dos governantes é uma demonstração de consideração aos governados. Uma demonstração – de fachada e frequentemente hipócrita, é verdade, mas que por isso mesmo revela que o compromisso com determinados valores democráticos não pode ser negado – da igualdade fundamental entre os donos do poder e seus constituintes.
A sem-cerimônia de Collor e, agora, piorada, de Bolsonaro é a manifestação indisfarçada do desprezo da classe dominante pelos dominados. Está-se à vontade como o patrão está à vontade diante dos criados: não é preciso manter a compostura porque não é preciso tratá-los com respeito.