POR TIAGO BARBOSA
Existe um ponto de interseção entre o assassinato de um negro pai de família pelo Exército no Rio de Janeiro e o apelo de bolsonaristas pela ação da polícia contra uma militante de esquerda em SP: o fascismo já se sente à vontade para usar os militares como arma de extermínio da identidade popular.
O ataque no Rio assusta tanto pelo excesso de violência – mais de 80 tiros disparados – quanto pela empáfia das Forças Armadas de refutar qualquer culpa pelo episódio.
Foram pelo menos três notas à imprensa, segundo o Fantástico, até anunciar a investigação dos militares envolvidos.
Em São Paulo, três covardes se uniram para imobilizar e agredir uma ativista pró-Lula enquanto os cúmplices, embriagados de ódio, clamavam pela força da PM contra “os antifascistas” – demonstração cabal da confiança na subserviência militar aos anseios das tropas da extrema-direita.
É impossível desvincular as ocorrências da apologia do bolsonarismo à violência contra opositores e os socialmente vulneráveis.
A execução no Rio de Janeiro faz eco à ordem do aliado e governador Wilson Witzel de “mirar e atirar na cabecinha”, o passe livre da polícia para matar abençoado por Sergio Moro.
A violência contra a militante é fruto da intolerância da matilha fascista às diferenças, covardia açulada tanto pela vontade do ídolo de “metralhar a petralhada” quanto pela conivência da polícia e da mídia diante do cultivo do ódio pela direita desde as passeatas pró-golpe.
O salvo-conduto para matar e a expectativa de alinhamento ao bolsonarismo distorceram a ideia de segurança pública ao estimular os militares a apontar a mira e empregar a força contra quem deveriam proteger: o cidadão.
Mas não qualquer um. As vítimas têm cor, condição social e inclinação política.
Em outras palavras: são pobres, negros ou, claro, se mobilizam para exigir a soltura de quem soube defendê-los.