O bolsonarista se abateu. Por Moisés Mendes

Atualizado em 19 de março de 2020 às 10:52
Presidente Jair Bolsonaro / FOTO: CAROLINA ANTUNES / PR)

Duas constatações dos panelaços de ontem à noite. O panelaço contra os fascistas (e não só contra Bolsonaro) foi um ensaio do que pode acontecer daqui pra frente.

E o panelaço pró-Bolsonaro, convocado pelo próprio Bolsonaro, foi um fracasso. O Brasil está começando a emitir sons fora das redes sociais. E o som deles, sempre barulhento, está sem força.

O bolsonarista de adesão, que votou em Bolsonaro como antiLula, dificilmente iria bater panela pelo negacionista da pandemia.

Mas ontem ficou evidente que o bolsonarista de raiz também se encolheu. Ele pode continuar representando em torno de 10% da população. Mas está recolhido.

Ontem foi a noite dos contrariados, mas ainda destreinados com tanto tempo em silêncio. E poderia ter sido a noite da demonstração de força dos apoiadores orgânicos do homem.

Eles não mostraram a cara nas janelas com a força e o número esperados. Os depoimentos pessoais nas redes são esclarecedores. A vizinhança bolsonarista está sem vitalidade.

Há uma parada, talvez estratégica, para saber o que fazer mais adiante. Mas pode ser o cansaço com a defesa de tantos desatinos.

Ontem, na região onde moro, na zona sul de Porto Alegre, cercada por gente que berrou muito quando do golpe, apenas um sujeito, um só, gritou ao longe “viva Bolsonaro”, no panelaço das 20h30. Gritou duas vezes, sem muita potência na voz. E ninguém o acompanhou.

Esperei que o homem viesse com força no panelaço das 21h, convocado por seu ídolo. Nada. Nem ele nem ninguém que pudesse ser ouvido na redondeza. Nada.

Bolsonaro não mobilizou uma panela numa região que comemorou o golpe de agosto de 2016 com foguetório e fez festa na sua eleição.

O bolsonarista foi abandonado pelo colaboracionista da direita. A direita deixou de ver Bolsonaro como algo que possa ser defensável.

E a extrema direita está recolhida como batedora de panelas, até porque é numericamente inexpressiva.

A extrema direita está sem o suporte do tucano, que em algum momento chegou a pensar que seria um dia um bolsonarista, mesmo que encabulado.

Bolsonaro não perdeu sua base fiel, mas ela se sente agora, sem o apoio explícito da classe média conservadora dita tradicional, sem lastro para reagir.

O bolsonarismo poderá ser um fenômeno cada vez mais gritão nas redes sociais e ao mesmo tempo quase mudo na vida real.

O bolsonarista se encaminha para a segregação nos grupos de Whatsapp. E as esquerdas já podem pensar em voltar à vida real.