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O Brasil de Sara Winter, Bolsonaro e cia.: Salvem os fetos. Matem as crianças. Deus acima de tudo. Por Nathalí

Sara winter

A falsa polêmica da criança de dez anos grávida depois de ter sido abusada por um tio no Espírito Santo continua.

Primeiro, a Secretária de Assistência Social de São Mateus, município onde a menina mora e onde aconteceram os abusos, dificulta o acesso da criança ao aborto legal (permitido pela legislação brasileira em se tratando de gravidez proveniente de estupro). 

Só quando o caso repercute no país inteiro a  justiça finalmente autoriza o procedimento – única atitude possível em se tratando de uma criança estuprada e grávida.

Como se não bastasse, maníacos ultraconservadores se aglomeram na porta do hospital protestando para que a criança de dez anos assuma um feto que nada mais é do que a marca de uma série de abusos. 

Uma criança traumatizada, hospitalizada, no que talvez seja o pior dia de sua vida, tem que lidar com um bando de trogloditas fanáticos fazendo-a sentir culpada, pecadora e imunda. 

A cena não é nada menos que chocante: as criaturas, que seriam patéticas se não fossem completamente repugnantes, berram louvores e orações sob a janela da criança internada. 

É isso que significa ser pró-vida nos dias de hoje? 

Você pode estar se perguntando como os maníacos fundamentalistas descobriram o nome e o hospital onde a criança está internada.

Uma velha conhecida nossa é a responsável pela façanha: Sarah Winter, presa este ano por liderar um grupo fascista armado, divulgou as informações. 

Não é novidade – ao menos não para mim – que não há limites para a perversidade desta mulher, mas divulgar informações que colocam em risco a vida de uma criança ou adolescente é crime (mais um pra conta), e se ainda houver qualquer resquício de seriedade neste país, ela voltará para a cadeia, de onde jamais deveria ter saído. 

É fato que Sarah Winter é uma criminosa – a essa altura, como duvidar? – , mas uma coisa ainda surpreende: a falta de brio com que essa gente que se diz “pró-vida” agride, achincalha e demoniza uma criança de dez anos estuprada pelo próprio tio, sem o menor constrangimento por suas incongruências morais. 

A obsessão não é por crianças, nem mesmo por fetos, é por uma espécie de moralismo violento que que comumente utilizam como escudo para ocultar a verdade pungente: eles não passam de trogloditas, que rejeitam a ideia de aborto legal “em defesa da vida” ao mesmo tempo em que defendem que crianças de doze anos possam ser presas. 

Só não vê quem não quer: os defensores da vida são, em verdade, capangas da morte.

Eles não só não dão a mínima para “as nossas crianças”, como são capazes de barbarizá-las em defesa de uma moralidade grotesca. 

Brasil, 2020: Salvem os fetos. Matem as crianças. Deus acima de tudo.

 

Nathalí Macedo

Escritora, roteirista, militante feminista, mestranda em Cultura e Arte. Canta blues nas horas vagas.

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Nathalí Macedo

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