O Brasil e a professora que, com câncer e aposentadoria atrasada, ateou fogo ao próprio corpo. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 10 de dezembro de 2017 às 5:24
Ligia Maria Panisset

Este artigo foi atualizado

A não ser por uns poucos familiares e amigos, a morte da professora Ligia Maria Panisset não foi muito chorada — mas sua tragédia silenciosa é símbolo do desespero que tomou conta do Brasil pós golpe.

Em 2 de dezembro, Ligia usou álcool para atear fogo ao próprio corpo em sua casa. Com 33% dele queimado, não resistiu e morreu cinco dias depois.

Morava em São Fidélis, estado do Rio de Janeiro. O site SFN Notícias, que cobre essa região, registrou que, no momento em que os bombeiros chegaram ao imóvel, ela estava em um quarto em chamas que ficou completamente destruído. 

Foi socorrida e encaminhada para o Hospital Armando Vidal, sendo transferida em estado grave para o Hospital Ferreira Machado, em Campos.

Ligia lutava contra um um câncer. Sua aposentadoria estava quatro meses atrasada. Não havia recebido os dois últimos décimos terceiros. Não tinha a quem recorrer.

No Facebook, uma amiga fez um lamento. “Oremos para que encontre a paz que não teve aqui devido ao caos que estamos vivendo”, escreveu.

“Essa atitude tem aumentado desde o final de 2015”. Os sindicatos, diz ela, “devem contribuir de forma a amparar e ajudar a tod@s os servidores psicologicamente”.

Quantos amigos seus não falam em se mudar do Brasil? Quantos não desistiram de um futuro que nunca chega?

O reitor Cancellier, da UFSC, desistiu. A professora Ligia desistiu. Não éramos assim. Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína.