O Brasil é refém de Bolsonaro. Por Moisés Mendes

Atualizado em 5 de abril de 2020 às 11:22
Bolsonaro. Foto: Orlando Britto

Publicado originalmente no blog do autor

Saiu a pesquisa que amplia o terror da pandemia. A pesquisa que a Folha gostaria de não ter feito.

Segundo o Datafolha, a renúncia de Bolsonaro é rejeitada por 59% dos brasileiros. Apenas 37% desejam que ele renuncie e 4% não sabem dizer.

Apesar de levantamento do próprio Datafolha apontar que apenas 33% dos ouvidos consideram a gestão da pandemia por Bolsonaro boa ou ótima, 52% acreditam que ele tem condições de seguir liderando o país. Sim, 52% estão com Bolsonaro até o fim.

Este é o dado mais assustador. O pesadelo se aprofunda. Os doentes não são os Bolsonaros. O Brasil está entregue ao surto coletivo da família.

É mais complicado do que parecia. Bolsonaro é o presidente mais rejeitado da história, mas o povo quer continuar com ele. O brasileiro deseja morrer sob a liderança de Bolsonaro.

A Folha demorou a fazer a pesquisa porque sabia do risco que corria. Apesar dos desatinos de Bolsonaro, do crescimento de Luiz Henrique Mandetta e da sensação de que todo mundo teme o homem que deveria liderar o país, o Brasil não quer se livrar de Bolsonaro.

Enganaram-se os que achavam que Bolsonaro havia perdido apoio entre a classe média e os ricos e que por isso estava perdido. Pode ter perdido parte importante dessa base branca e reacionária, mas reforçou seu apoio entre os pobres, como o próprio Datafolha vinha mostrando.

A pandemia rearticulou os apoios a Bolsonaro. Empresários (74% defendem que não renuncie), moradores do Sul, os mais velhos e os que não temem a doença reforçam o apoio.

Mas alguém pode perguntar: mas como ele tem apoio de 59% dos mais velhos, se os idosos são os que mais morrem na pandemia? A irracionalidade talvez ajude a explicar.

Outro dado comprova a decisão acertada de Bolsonaro de discursar para os religiosos. Entre os evangélicos, 64% não querem a renúncia e 60% acham ele reúne condições de governar.

O brasileiro parecia ter encontrado no ministro Mandetta o apoio que procurava para resistir com alguma racionalidade à pandemia. E as pesquisa mostram isso, que seu desempenho tem aprovação de 76% da população. Mas mesmo assim o país é atraído pelo pacto da morte com Bolsonaro.

O que fazer? Buscar proteção nas trincheiras da democracia, mesmo que no momento pareçam não servir para muita coisa. O Brasil fracassou. Somos reféns dos Bolsonaros.