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O Brasil entre um pervertido e um censor. Por Carlos Fernandes

General Mourão e Jair Bolsonaro. Foto: Evaristo Sá/AFP

O mundo inteiro se escandalizou com a mais nova demonstração de sandice de um presidente da República completamente incapaz de compreender sequer as formalidades intrínsecas ao cargo que ocupa.

Inoperante e disfuncional, Jair Bolsonaro conseguiu a façanha de horrorizar um país como o Brasil em pleno carnaval por aquilo que constitucionalmente está descrito como quebra de decoro. Crime passível de punição com impeachment.

Divulgar conteúdo impróprio em sua conta oficial do twitter a pretexto de desmoralizar e desqualificar uma das maiores manifestações culturais do planeta, não é só um despropósito em si, é a manifestação plena de um sujeito com sérios problemas de ordem psicológica voltadas sobretudo a questões emocionais de cunho étnico e sexual.

O seu racismo rasteiro e a sua homofobia latente ambos travestidos de moralismo barato já seria um acinte em qualquer sociedade mais ou menos homogênea. Numa nação plural como o Brasil traduz-se como a total incompetência de governar para o todo.

E é justamente pela sua flagrante inabilidade em dialogar com os mais diferentes setores da sociedade do qual julga e diminui na esteira de sua debilidade cognitiva simplesmente como “vagabundos” e “pervertidos”, que o deslegitima para a complexidade da função de coordenar políticas para todos aqueles que compõem o nosso complexo tecido social.

Sem que seja preciso sequer mencionar os já diversos casos de envolvimento em esquemas de corrupção, isso, por si só, já seria motivo mais do que plausível para que fosse dado o seu imediato impedimento para exercer um cargo de tamanha responsabilidade.

O problema, porém, vem imediatamente com as consequências do seu afastamento.

Trocar um pervertido enrustido como Jair Bolsonaro por um censor militar como o general Mourão não é contraproducente ou representa qualquer melhora para as políticas de inclusão social e diminuição da desigualdade social do país, temas inquestionavelmente de extrema urgência para o nosso desenvolvimento.

Por mais que se pareça mais civilizado do que seu atual chefe – e isso, convenhamos, não é mérito algum – seus métodos o tornam ainda mais perigoso para a diversidade cultural, racial, de gênero e de pensamento do que o próprio Bolsonaro e sua prole de patetas.

Até por sua trajetória militar, Hamilton Mourão não possui nenhum pressuposto que o qualifique para o debate democrático.

Interventor declarado, não foram poucas as vezes que ameaçou utilizar as forças armadas para interferir na democracia e na expressa vontade popular.

Por todas as suas declarações no passado recente, Mourão é um risco iminente de aprofundamento de nossas mazelas sociais.

Entre um e outro, portanto, a única certeza que podemos ter é que pela ignorância e ódio de uma grande parcela da população brasileira, estamos todos à mercê de uma dupla de desequilibrados cuja única diferença encontra-se provavelmente em traumas da infância.

Um possui aversão à diversidade sexual e étnica, o outro, à democracia.

Carlos Fernandes

Economista com MBA na PUC-Rio, Carlos Fernandes trabalha na direção geral de uma das maiores instituições financeiras da América Latina

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