O Brasil está preparado para viver uma era climática e digital?

Atualizado em 29 de maio de 2021 às 20:27

Originalmente publicado em FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO

Nesta sexta-feira, 28 de maio, o programa Pauta Brasil debateu temas que se conjugam e se completam: meio ambiente e o futuro do clima, geração de empregos e tecnologia.

Com mediação de João Cassino, coordenador do Setorial de Ciência & Tecnologia/Tecnologia da Informação do PT-SP, integrante do NAPP CTI, participaram do programa Izabella Teixeira, Marilane Teixeira e Sérgio Amadeu da Silveira.

Para Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente nos governos Lula e Dilma, o meio ambiente juntamente com a questão climática é um tema geopolítico do século 21. “Viveremos uma era climática com uma era digital, isso propõe uma reorganização dos sistemas de cooperação e de comércio internacionais. Na base disso está a nova relação do homem com a natureza. O debate é como trabalhar as demandas sociedade global tão assimétrica e tão desigual entrando numa era climática e de forte impacto da economia digital. A pandemia acelerou e antecipou esse debate”. Segundo a ambientalista as decisões que ocorrem hoje serão aceleradas nessa década que se inicia que é uma década de transição. “O Brasil precisa se posicionar frente aos desafios que o mundo coloca, uma vez o país tem ativos ambientais importantes que precisam ser recolocados no processo de desenvolvimento e de enfrentamento das nossas desigualdades sociais e da nossa informalidade econômica. Neste conjunto também há a discussão sobre a nova revolução industrial e tecnológica como gerar emprego, assegurar as novas dinâmicas de emprego, compartilhamento de espaços e novos empregos. As questões climáticas deverão impactar os fluxos migratórios”, relata Izabella.

Enfatiza que o meio ambiente deve estar no dia a dia das pessoas. “O Brasil tem de aprender a se desenvolver com a Amazônia, devemos pensar a Amazônia como parte de um projeto de desenvolvimento para o país”.

Segundo a economista, doutora em desenvolvimento econômico, professora e pesquisadora (Cesit/IE – Unicamp) na área de relações de trabalho, sindicalismo e gênero, Marilane Teixeira, nosso mercado de trabalho é pouco estruturado, heterogêneo e nunca contemplou todos, como negros, mulheres. Recupera que a partir da década de 1990, “há uma perda de densidade produtiva, decorrente do processo de abertura econômica e comercial e boa parte da indústria nacional foi privatizada ou desnacionalizada, com perda de produtividade. Ocorrendo um processo de desestruturação do mercado de trabalho, e o crescimento do setor de serviços e o processo de informalidade crescente e constituição de novas formas de trabalho, a exemplo do trabalho por conta própria. Depois anos de políticas de inclusão social, aumento da formalização, em 2016 o quadro do trabalho no país novamente se reverte”.

Com base no quadro de estagnação que se instalou a partir de 2015, e se aprofundou em 2020 com a crise pandêmica, diz que o perfil de trabalho cada vez mais se associa e se descola do nível de escolaridade e formação profissional das pessoas. Lembra que estão sendo gerados empregos basicamente no setor de serviços, domiciliares, às famílias que detêm renda, por outro lado um crescimento das plataformas digitais, que contratam trabalho precário, sem direitos. E constata, “o Brasil entra nessa nova era em condições que nós não conseguimos sequer nos integrarmos no processo anterior, tido como a 3ª revolução tecnológica”.

Para Sérgio Amadeu da Silveira, sociólogo e doutor em Ciência Política pela USP, professor da UFABC, ex-membro do Comitê Gestor da Internet do Brasil e ex-presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação no governo Lula, o setor dinâmico da economia hoje é setor digital ou das tecnologias da informação. “Os serviços principais estão se baseando em um modelo de negócio que se fundamenta em ofertar serviços, produtos e interfaces gratuitas em troca de uma permanência grande dos usuários desses serviços para que deles se extraia dados pessoais. E mais faz isso são as plataformas digitais”. Dá o exemplo do Google, como buscador, o grande intermediário; Uber… O professor continua explicando que a plataformização está no topo desse sistema econômico baseado em dados. “O faturamento em 2019 de Google, Amazon, Facebook, Aple e Microsoft foi de US$ 899.09 bilhões (cinco empresas somadas faturaram 48% do PIB brasileiro). O poder dessas plataformas não pode ser subestimado. Elas estão entrando nos setores que estão em franca privatização, saúde, educação e na área de alimentos no campo. Isso vai gerar muitos pequenos e médios atravessadores, concentrará o recurso para ser levado para fora do país”.

Sergio Amadeu coloca as questões: “se hoje a tecnologia da informação é a tecnologia de ponta, nós estamos apostando nela com as vantagens que nós temos de conhecimento, estrutura universitária, diversidade ambiental e cultural tão vastas? Estamos apostando em inteligência artificial?” E responde: “Não. Nós estamos sendo preparados para sermos consumidores de serviços e produtos digitais feitos no primeiro mundo”.

Assista a íntegra do programa abaixo.