A coluna dominical de Miriam Leitão, em O Globo, mostrou, através de números da pesquisa Quaest, que o país não é tão polarizado quanto quer fazer parecer a estratégia de comunicação de Jair Bolsonaro. Leia trechos:
“O Brasil não é um país tão polarizado assim Há duas teses circulando: o brasileiro é mais conservador do que se imaginava e a economia está melhorando, o que levará a mais votos para Bolsonaro. Será? Minha convicção é que há um ultraconservadorismo fabricado pela extrema-direita que sempre cresceu inventando falsas questões. ”, diz Miriam Leitão (…)
O brasileiro pode não ser majoritariamente liberal no comportamento, mas essa não é uma agenda pela qual ele estaria disposto a hipotecar o futuro do país e romper laços familiares, se não fosse a manipulação a que está submetido pelo governo Bolsonaro. É parte do jogo da extrema-direita criar falsos conflitos para mobilizar multidões. E isso se faz criando uma grande mentira e repetindo-a insistentemente. Por exemplo, a de que o adversário político teria um plano de, nas escolas, impor a sexualização precoce às crianças e induzi-las à troca de gênero (…)
Há um conservadorismo que é tão natural quanto o progressismo. São visões diferentes de mundo. A pessoa pode estar mais ou menos aberta às mudanças comportamentais. Mas há um reacionarismo, e esse precisa ser combatido, que é cevado pelo grupo que está agora no poder. (…)
O Brasil não é um país tão polarizado assim. A Quaest perguntou se as compras de armas devem ser facilitadas. Disseram não 90% dos eleitores de Lula e 52% dos eleitores de Bolsonaro. O aborto deve ser legalizado? Disseram não 87% dos eleitores de Bolsonaro e 62% dos eleitores de Lula. Discordam da legalização do aborto 73% dos católicos e 82% dos evangélicos. Aliás, 68% dos evangélicos são contra também a liberação de armas e 75% dos católicos. As cotas raciais são aprovadas por 49% dos bolsonaristas, 61% dos lulistas, 55% dos católicos e 53% dos evangélicos.
Nossas divisões existem, claro, mas o grau de conflito atual foi exacerbado por Bolsonaro, porque ele governou estimulando exatamente isso. (…)