O Brasil que tem medo. Por Moisés Mendes

Atualizado em 8 de outubro de 2023 às 0:46
O ministro da Defesa, José Múcio, entre militares. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Um Brasil vacilante não sabe se avança, se para ou recua diante de questões decisivas para a afirmação da democracia. Porque, nas avaliações de riscos, muitas vezes o que prevalece é o medo. Não a prudência, mas o medo mesmo.

O Brasil tem medo de novo de mexer com a ira dos militares, mesmo que eles tenham fracassado na cumplicidade com milicianos e na articulação de um golpe tabajara.

As Forças Armadas desmoralizadas por Bolsonaro, como mostram as pesquisas, podem reagir à recriação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. É o que dizem. Mas podem fazer o quê? O medo não ajuda a esclarecer.

O Brasil tem medo de mexer com mortos e desaparecidos da ditadura e ainda teme os blefes de Bolsonaro, como esse agora, produzido em discurso numa igreja evangélica de Belo Horizonte, de que um dia o país ficará sabendo o que aconteceu na eleição de 2022.

O que ele diz é que um dia terá, como pretendeu até a invasão do 8 de janeiro, o controle político absoluto do país e poderá criar a versão que lhe interessa sobre urnas, eleição e sistema eleitoral.

O Brasil teme que Bolsonaro não esteja morto. Teme os filhos de Bolsonaro, os milicianos do entorno, os grandes empresários financiadores do fascismo, os assumidos e os dissimulados, e teme o poder paroquial da extrema direita nas pequenas cidades.

Há um temor contido, que se disfarça em outros sentimentos, de que a democracia ainda vacila. Não se sabe ao certo do que será capaz o Congresso, se conseguir avançar na ambição de amordaçar o Supremo e por isso tememos de novo os homens das balas, das bíblias e dos bois.

Tememos sempre a índole golpista da grande imprensa, que destrói previsões de que iria morrer e mantém o mesmo poder destruidor do século 20. Tememos a falta de poder do Ministério Público republicano para enfrentar os excessos de poder político e econômico das várias formas de fascismo entranhadas no Judiciário.

O Brasil vacila na aposta de que haveria o desvendamento dos crimes da pandemia. Teme porque há coronéis na lista de criminosos. Dois anos depois, não temos nenhum indiciado.

Temos medo das represálias dos que podem escapar. A maiorias pode escapar. Os chefes das quadrilhas de vampiros da pandemia, do grupo de muambeiros e das gangues do golpe.

É gente que conta os dias para chegar ao momento em que poderá dizer: a partir de agora não acontecerá mais nada. O Brasil que venceu a eleição e derrotou os golpistas tem dúvidas e medos, eles já têm certezas.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foto: reprodução

Ainda tememos nossos vizinhos ameaçadores. Prosperam os sinais de que a extrema direita se reorganiza por toda parte, nas esquinas e no zap, depois do trauma das derrotas em sequência.

O Brasil tem medo do que pode acontecer nas campanhas às eleições municipais, quando guerras locais exacerbam ódios e confrontos. Será a primeira eleição depois da derrota do projeto bolsonarista.

Temem os resultados das eleições, o surgimento de novas lideranças jovens no bolsonarismo. E, a partir do fortalecimento das bases municipais, temem o projeto que será montado para a ressurreição nacional do que sobrou de Bolsonaro.

O Brasil com medo teme omissões e inações dos próprios brasileiros e espera que quase tudo se resolva pela imposição das valentias de Alexandre de Moraes e de Lula.

Bolsonaro, os milicianos e os militares sabem bem desses temores e por isso hoje têm menos medo do que no início do ano.

Publicado originalmente no Blog do Moisés Mendes

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