As chances do Brasil sem Neymar

Atualizado em 5 de julho de 2014 às 11:14

Brazil's Neymar

Ladies & Gentlemen:

Boss me narra o sentimento fúnebre que tomou conta dos comentaristas esportivos brasileiros depois da notícia da fratura de Neymar.

“Acabou toda a responsabilidade da seleção”, disse um deles, segundo Boss. “Pode perder da Alemanha que mesmo assim vai haver desfile triunfal em carro aberto.”

Ladies & Gentlemen: esse tipo de situação só na Terra do Nunca. Num país que venceu cinco Mundiais, desfile em carro aberto sem título só se for com o objetivo de ver os jogadores apedrejados.

A não ser para as estatísticas oficiais, não existe vice-campeão numa Copa. É o campeão e os demais derrotados.

Neymar, evidentemente, fará falta. Era o artilheiro e melhor jogador do time.

Mas lembremos algumas coisas.

Um: a Alemanha não tem nenhum Neymar. Seu jogador mais hábil, Ozil, está numa categoria claramente abaixo. É um time perfeitamente batível, como se viu em toda a competição. (Nota da tradutora: totally beatable.)

Dois: o Brasil tem Willian, um craque subestimado entre os brasileiros por ser desconhecido. Mas aqui, em Londres, nós sabemos o grande jogador que é. Conquistou um lugar no Chelsea tão logo chegou na Ucrânia enquanto Oscar fica mais no banco que no campo.

Arma, dribla, finaliza, dá passes precisos: enfim, um jogador completo. Não tem as arrancadas letais de Neymar, mas tem outras virtudes. E insisto: também a Alemanha não tem aquelas arrancadas.

Três: no decorrer do campeonato, um jogador foi emergindo como a real alma do time. David Luiz, outro velho conhecido de nós da Inglaterra. É o real capitão do time, embora não tenha a braçadeira.

Sua liderança pode atenuar entre os jogadores o sentimento de perda pela ausência de Neymar.

E a seu modo peculiar – desajeitado, caretas de Jim Carrey, cabeleira voando desordenamente – também ele tem suas arrancadas, capazes de eletrizar a torcida e contagiar seus companheiros.

A dependência de Neymar é mais psicológica que real, e certamente está mais nos jornalistas esportivos do que nos jogadores.

Um último ponto: a agressão sofrida por Neymar – pelas costas – faz refletir sobre o peso das punições. Uma mordida, cujos doídos efeitos passam depois de poucas horas, foi punida com quatro meses de suspensão.

Qual seria o castigo certo para quem quase aleija o adversário? Qual infração foi mais grave? Parece claro, agora, que a mordida foi supervalorizada.

Ladies & Gentlemen: disse que ia apostar no Brasil contra a Alemanha, alguns dias atrás. A despeito do afastamento de Neymar, mantenho a aposta.

Sincerely.

Scott

Tradução: Erika Kazumi Nakamura

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Aos 53 anos, o jornalista inglês Scott Moore passou toda a sua vida adulta amargurado com o jejum do Manchester City, seu amado time, na Premier League. Para piorar o ressentimento, ele ainda precisou assistir ao rival United conquistando 12 títulos neste período de seca. Revigorado com a vitória dos Blues nesta temporada, depois de 44 anos na fila, Scott voltou a acreditar no futebol e agora traz sua paixão às páginas do Diário.