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O cachorro de Marcela e o projeto de “popularidade” de Temer. Por Nathalí Macedo

Picoly e Thor relaxam numa boa

Depois de lançar um programa intitulado Criança Feliz (que só atua em 6% das cidades brasileiras oferecendo apoio social e psicológico a crianças carentes, mas tem matérias de folha inteira na mídia nacional), a “bela, recatada e do lar” Marcela Temer deu mais uma prova de sua delicada bondade: se atirou no Lago Paranoá para salvar o próprio cachorro.

A bondade imaculada, é bom dizer, não se estende à criadagem. Não houve clemência para a agente do Gabinete de Segurança Institucional que teve o infortúnio de estar no lago errado com o cachorro errado, e foi deslocada de suas funções por não ter ajudado Marcela na heróica empreitada (“entrar pra a história é com vocês”, ela deve ter pensado).

Moral da história: o cachorro passa bem, mas a agente terá problemas.

Isso me lembra – por que será? –  a moralidade conservadora que protege fetos mas chama crianças de rua de trombadinhas. O que importa é transmitir uma imagem de bondade e ter bom português.

Alguma feminista tomada pela sororidade incondicional – como é perigosa! – pode confundir esse texto com um ataque de uma mulher à outra, mas, infelizmente, o buraco é mais embaixo: o fato é que Marcela Temer tem sido usada como vitrine do marido em todas as oportunidades possíveis.

Embaixadora voluntária de programa pra criança carente, exemplo de “bela, recatada e do lar” e salvadora de cachorrinhos, embora não tão benevolente com seguranças, Marcela vive estampando colunas sociais com uma imagem angelical.

Marcela e Thor

Até seus vestidos são pensados para transmitirem uma imagem de doçura, beleza e juventude – tudo que falta ao Drácula que preside o Brasil, e que ele absorve por osmose na carona da imagem da jovem esposa.

Não fui eu quem disse, foi a filósofa Marcia Tiburi, autora de “Como conversar com um fascista?”

Toda a imagem da primeira-dama imaculada de tom professoral é um projeto do governo para limpar a barra de Michel Temer – com 99% de rejeição popular, haja ternura.

Só há uma coisa pior do que tratar Marcela Temer ignorando seus privilégios: inocentá-la da cumplicidade com o projeto de popularidade de seu marido sem votos.

É bonitinho pular pra salvar o cachorro. Mas o justo seria não permitir que um trabalhador fosse prejudicado por não se atirar no lago para salvar o cachorro presidencial em apuros.

As mulheres de que precisamos não prezam pelo “bonitinho”, prezam pelo justo – e talvez por isso estejam sendo usurpadas da Presidência em vez de servirem de vitrine para os seus maridos.

Vira lata encontrado num terreno baldio
Nathalí Macedo

Escritora, roteirista, militante feminista, mestranda em Cultura e Arte. Canta blues nas horas vagas.

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Nathalí Macedo

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