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O Campeonato Brasileiro de 2014 começou tão ruim quanto o de 2013

Um jogo-pesadelo

Ladies & Gentlemen:

O Campeonato Brasileiro de 2014 começou como terminou o de 2013: péssimo.

Times ruins, jogos penosos, arquibancadas vazias, gramados carecas (nota da tradutora: bald fields) como Boss e eu mesmo.  Nem Rogério Ceni, o arqueiro quarentão do São Paulo, sai de cena.

O Almighty, time por cuja torcida me apaixonei ao cobrir para o DCM o Mundial de Clubes do Japão, parece ter ficado congelado no tempo.

Na edição passada, o Corinthians sofria de aguda incapacidade de fazer gols. O técnico é outro, muitos jogadores são outros, mas a dificuldade em colocar a bola na rede é a mesma.

No jogo da estreia, a impressão que me ficou é que o time adversário poderia ter jogado sem goleiro, tamanha a fraqueza do ataque corintiano.

Por que é tão ruim o Campeonato Brasileiro, se o Brasil produz tantos craques que vão dar brilhos a campeonatos como o meu, a Premier League?

Fiz esta pergunta a Boss, numa conversa no pub de Parsons Green. Ele disse que tudo em que a emissora que transmite os jogos – a Globo — põe a mão fica um horror.

Terá ele exagerado? Como não moro no Brasil, não sei.

“Existem empresas que modernizam as coisas nas quais se envolvem”, me disse Boss. “A Globo é o oposto: ela destrói. Enquanto promove a destruição, ganha dinheiro em quantidade inacreditável.”

“E ninguém detém a empresa”, perguntei? “Governo, opinião pública, jogadores, clubes … ninguém?”

Ele mexeu a cabeça em negação e pediu mais uma pint.

“Scott: ninguém consegue sequer fazer a Globo transmitir jogos no meio da semana num horário decente. Jogo, só depois da novela, às 10 da noite.”

Conheço esta triste realidade porque, às vezes, sou obrigado a entrar na madrugada para ver uma partida, dadas as quatro horas de diferença.

O que mitiga minha tarefa árdua de cobrir o Campeonato Brasileiro são os jogos que vejo na Premier League.

Temos um virtual campeão com sangue brasileiro, o Liverpool. Philippe Coutinho é um dos destaques do time, e fiquei impressionado quando Boss me disse que talvez ele não esteja na Copa do Mundo.

Ladies & Gentlemen: jogador brasileiro que brilha na Inglaterra é porque é realmente excepcional. Robinho, por exemplo, foi um fiasco em meu City.

Philippe Coutinho é, provavelmente, o jogador brasileiro que mais se ajustou e mais se destacou na terra que inventou o futebol como o conhecemos.

Não será convocado? Ora, então vamos nacionalizá-lo porque ele veste facilmente a 10 do English Team.

Na falta de novidades reais, inventam coisas no Brasil. Boss me diz que já estão pedindo a convocação de Pato depois da primeira rodada do Brasileiro.

Vi os melhores momentos da peleja, e não entendi a falação em torno de Pato.

“Que ele fez?”, perguntei a Boss.

“Deu um passe.”

“Que catzo é este? (Nota da tradutora: what the fuck?)

“Deu um passe. Foi isso.”

Boss pediu mais uma pint.

“Fratello (ele me chama assim, às vezes): houve um jogador chamado Marcelinho que deu mil passes como aquele do Pato, e jamais foi a uma Copa. Pioramos, Fratello, pioramos.”

Aquiesci, e tomei uma última pint antes de retornar à minha casa em Ranelagh Gardens.

Sincerely.

Scott

Tradução: Erika Kazumi Nakamura

Scott Moore

Aos 53 anos, o jornalista inglês Scott Moore passou toda a sua vida adulta amargurado com o jejum do Manchester City, seu amado time, na Premier League. Para piorar o ressentimento, ele ainda precisou assistir ao rival United conquistando 12 títulos neste período de seca. Revigorado com a vitória dos Blues nesta temporada, depois de 44 anos na fila, Scott voltou a acreditar no futebol e agora traz sua paixão às páginas do Diário.

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