O cansaço moral do coronel Mauro Cid. Por Moisés Mendes

Atualizado em 1 de setembro de 2023 às 9:03
Mauro Cid com expressão séria, olhando pra baixo, cabisbaixo
Tenente-coronel Mauro Cid. Foto: Geraldo Magela

Por que o coronel Mauro Cid ficou quase 10 horas depondo na Polícia Federal nessa quinta-feira? Porque quis oferecer aos investigadores detalhes do que fez e do que mandaram que fizesse. Ninguém fica da manhã à noite sendo interrogado se não tem muita coisa a dizer.

Mauro Cid decidiu falar porque está moralmente cansado. Porque viu o pai ser envolvido no rolo das joias. Por saber que é acusado de ter induzido o pai a ser mula dos Bolsonaros. Porque está preso desde 3 de maio e Bolsonaro e Michelle estão soltos.

Porque fica sabendo por quem o visita que Michelle debocha das investigações e diz que irá criar a grife Mijoias.

Michelle Bolsonaro anuncia “Mijoias”, durante evento do PL Mulher. (Foto: Reprodução)

Porque todas as falas do marido e da mulher que mandavam nele apontam na direção de que ele, Cid, é o culpado por tudo.

Porque também informam ao coronel que Bolsonaro já disse que nunca mandou vender joia nenhuma. Que Michelle está tão descontraída que divulga até vídeo lutando boxe.

Mauro Cid é informado pelos advogados e por parentes que de vez em quando a imprensa repete que ele pagava as contas de Michelle. Que Michelle o tratava como mandalete.

Mauro Cid sabe, apesar de ter dito que ocupava o cargo de ajudante de ordens por escolha dos militares e em função destinada exclusivamente a militares, que Bolsonaro o tratava como se fosse não um coronel, mas um serviçal qualquer.

O coronel sabe muito mais. Que, se continuar calado, o silêncio irá se voltar contra ele. E ficou sabendo nesta quinta-feira que marido e mulher nada disseram à PF.

E o pior é que Mauro Cid sabe que a imagem dele, em setores do Exército, é a de um subalterno usado por uma família, mas incapaz de reagir, com seu poder de homem fardado, para dizer o que sabe e recuperar pelo menos parte do que o casal das joias lhe roubou.

Por tudo isso, está cada vez mais evidente que Mauro Cid vem contando à PF detalhes do que sabe e do que fez a mando de Bolsonaro.

Mas terá de contar não só sobre as joias, mas também sobre o golpe e sobre a fraude dos cartões de vacinação.

Resta saber como, a partir das suas informações, a PF terá elementos que se ofereçam como indícios ou provas de que o coronel não agia por conta e de que tudo que fez foi porque se submeteu ao comando de Bolsonaro.

Mauro Cid tem provas do que diz, ou não estaria depondo por 10 horas. É o que todos querem ver: as provas.

Originalmente publicado no Blog do Moisés Mendes

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